Logo que comecei a leitura deste livro, tive a impressão de que eu estava entrando numa cansativa jornada de 318 páginas, as quais se piorassem, eu não veria alternativa, senão cometer um ato raro: abandonar a leitura. Sim, este A MULHER COM O LAPTOP começa um pouco enfadonho, daquelas leituras que causam inevitáveis ardências nos olhos. E mais; em momento algum ela decola pra nos fazer querer virar mais uma página e ler mais um pouquinho.
Outro aspecto que imediatamente me causou desconforto, é que
o autor nos arremessa, sem nenhum pudor, uma elevada quantidade de personagens,
o que nos deixa completamente perdidos, tentando recordar quem é quem na
história.
Começo esta resenha com queixas, exatamente para dar segmento
á epítome, destacando que o autor, D.M.
Thomas, consegue se redimir em parte de alguns de seus pecados literários,
conforme vamos progredindo nas páginas deste seu trabalho.
A trama passa a ter um ganho substancial na exata proporção
em que o personagem principal vai se mostrando para o leitor. Sobretudo quando
ele faz desabafos impronunciáveis, instigado pelos próprios sentimentos. Ainda
assim, a leitura peca por nunca passar de morna e quase não têm grandes
instantes para nos deliciar. São apenas situações quase que corriqueira, como
se estivéssemos acompanhando o dia-dia de pessoas num inusitado workshop. A
falta de familiaridade com os personagens também incomoda bastante, mas acho
que o leitor acaba criando certo vínculo próprio apenas com os seus preferidos,
embora eu deva dizer que nenhum foi cativante o suficiente aos meus auspícios,
talvez por falta de mais interação construtiva ou o elevado número de
coadjuvantes.
A trama conta a história de Simon, escritor de segunda
classe, que é convidado á passar uma temporada numa ilha grega, onde coordenará
uma oficina literária. Os “alunos” da oficina são personagens distintos, meio
que em busca de certa libertação de seus impulsos interiores. O desafio de Simon
é de tentar ensinar aos participantes a diferença entre querer escrever e a
qualidade do que é escrito. A trama parece meia vaga e ás vezes nos deixa a
impressão de que ela é mero escapismo para algo maior que está por vir, o que infelizmente
nunca acontece.
Os pontos fortes do livro ficam por conta da narrativa bem
construída, muitas vezes intensa e noutras com diálogos profundos: “Quanto mais bela uma mulher, mas ela tende a
desprezar a beleza feminina, após o declínio da sua”. Sacadas reflexivas,
como essa, embelezam alguns instantes da obra. Outro aspecto positivo é que a
forma de linguagem é um pouco diferente da habitual. Não sei dizer nem se é
difícil, mas é imprevisível e incomum, principalmente quando se trata de um
narrador na primeira pessoa. Incomodou um pouco no início, mas depois aprendi a
gostar da forma de escrita de D.M.
Thomas, um escritor que mostrou possuir um estilo textual peculiar, mas que
teria sido melhor aproveitado se a trama fosse um pouco mais sedutora.
Foi uma viagem por uma história nem um pouco
previsível, mas sem grandes momentos. Com uma forma de linguagem singular, e um
título que só foi ser explicado no finzinho da obra. Pra quem for degustar,
fica a dica: não avance até o final para entender o título. Prefira desfrutar
de todo o livro, viajando numa aventura pouco empolgante, mas que é simpática e
despretensiosa.
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