O grande filósofo Aristóteles nos deu uma definição
fantástica sobre o sentido da palavra amizade. Segundo o pensador grego, “A amizade é uma alma com dois corpos”.
Embora esta ideia nos pareça imaculada demais pra ser enriquecida,
ainda assim, eu gostaria de circunstanciar, nesta breve reflexão, que ao longo
de muitos séculos, houve um progresso na ideia deste grande filósofo.
E essa evolução aconteceu aqui, dentro dessa sala de aula.
Era uma sexta-feira treze de abril, do ano de 2012. Nunca
tive crendices supersticiosas, mas aquela foi uma trágica sexta-feira 13 em
minha vida. Durante uma despretensiosa pelada com os amigos do trabalho, eu me
acidentei seriamente e precisei fazer uma cirurgia complicada. E entre muitas
medidas que precisei tomar por conta disso, uma delas foi o meu afastamento do
curso de inglês por quase um ano.
Mas a vida é mesmo uma estrada indecifrável, e as
consequências daquele acidente, que só pareciam destinadas a frear minha vida,
me conduziram até uma nova turminha do CCAA. Turma esta, a qual eu conhecia
apenas a professora Maísa.
De início, a relação era de extrema cautela; de um lado, havia
eu tentando me afeiçoar com aqueles desconhecidos rostos. E do outro, a maioria
deles buscando entender quem era aquele estranho novato, que usava roupas
pretas e cabelos compridos.
E a reciprocidade veio aos poucos. Até porque não poderia ter
sido diferente; tínhamos apenas um encontro semanal onde o único instante em
que havia a possibilidade de nos relacionar, era durante o intervalo da aula.
Bom, dentro da sala a gente até poderia tentar, mas a Maísa nos obrigava a
fazê-lo em inglês, o que para nós era praticamente impossível.
O tempo foi avançando e as noites de quartas se transformando
em encontros cada vez mais familiares, entre alunos intencionados a se tornar
bilíngues. Galgamos cada semestre, numa briga incessante por compreender um
inglês que nos soava escapadiço; éramos um amontoado de mentes travadas,
olhares receosos e línguas presas... Bom, talvez não para o Silvério, com sua
audição sempre aguçada e uma pronúncia irritantemente impecável.
Mas o que aqueles contínuos encontros não nos deixavam notar
era o quanto levávamos nosso intrincado progresso com respeito, harmonia,
serenidade e compreensão um pelo outro. Até chegarmos ao auge dessa virtude
coletiva, quando estávamos diante das deliberações de nossa formatura, e mesmo
frente a condições contraditórias que nos foram impostas, nossa turma,
consolidada e forte de união, optou por ficar junta. Mesmo isso implicando em
não fazermos parte dos festejos de encerramento.
Ora, meus amigos, se estes não são resquícios da construção
de um grupo forte e afetuoso, sinceramente eu não sei o que mais poderia ser.
Dessa nossa harmonia evolutiva, só abandonou o barco aqueles
que não se viram encaixados; os que se sentiram desconexos, ou simplesmente não
olhavam para o nosso grupo como prioridade... Portanto, temos aqui, nesta reta
final da jornada, o molde concluído de uma turma que aprendeu a se gostar e se
respeitar... E acreditem: não seria melhor se fosse com outros alunos. E de
jeito nenhum este seleto grupo altruísta existiria se faltasse você, Florinda,
Isabelle, Heitor, Lara, Luiz, Maísa, Marcus, Natália, Scarlat, Silvério.
Despeço-me aqui, tomado por certo pesar por estarmos no fim
de nossas aventuras de quartas-feiras. Mas e quem disse que tinha de ser pra
sempre, né? Afinal, tudo aquilo que nunca se acaba, acaba perdendo a graça e a
notoriedade... De mim, sairei pela última vez por essa porta, um sujeito melhor
do que quando entrei, pois aprendi a me sentir parte deste bando de aspirantes
da língua universal. Sim, pois mais do que aprender uma língua, eu levo comigo
valiosas lições de companheirismo e apreço.
Mas espera um pouco aí: e quanto a Aristóteles? O que a frase
no início do texto tem á ver com tudo isso?
***
(Esta é uma singela homenagem à todos os meus colegas que se formaram comigo na última quarta-feira, dia 22/07/215)
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