sábado, 21 de novembro de 2015

RESENHA DE LIVRO: O DIÁRIO DE SIBYL DANFORTH, PARTEIRA


Não raro os livros nos permitem viajar através de mundos que, embora aparentemente perto de nossa existência, nos escapam de entendimento e interesse. Partos normais realizados em casa tem sido uma realidade cada vez menos presente neste atual mundo sistêmico e desinformado, onde a oportunidade de discernimento é arrancada da sociedade, restando-nos apenas deliberar por caminhos oferecidos por planos de saúde mafiosos, que nos empurram goela abaixo a direção do que temos que fazer como se fôssemos incapazes de pensar por nós mesmos.

E em vez de a medicina trabalhar em busca do aperfeiçoamento dos partos normais, sejam em hospitais ou no conforto do lar, o foco das pesquisas toma como meta a precisão e rapidez dos partos cesarianos; método artificial que avilta e desacelera o processo de recuperação da mãe.

Este belo livro intitulado O DIÁRIO DE SIBYL DANFORTH – PARTEIRA, embora seja um trabalho de ficção, trás à tona esse tema: a contradição e rejeição social dos trabalhos de partos em casa.

Chris Bohjalian se empenhou arduamente em pesquisas e mergulhou a fundo no mundo das parteiras, deixando sua obra recheada de conteúdo que nos ajuda a compreender um pouco melhor essa cabível, porém obscura, ideia dos partos em casa. O autor esmiúça o mundo das parteiras e nos entrega uma eficiente trama, que mescla em doses precisas, a realidade das parteiras dentro de uma história bem elaborada.

E por falar em trama, esta se passa na comunidade rural de Reddington, Vermont, num rigoroso inverno de 1981. A parteira que dá nome ao título da obra precisa tomar uma decisão rápida para salvar um bebê, submetido aos seus cuidados. Uma decisão que mudará a vida desta mulher para sempre.

No meio deste complicado parto, Sibyl percebe que a mãe sofre morte cerebral e ela não vê alternativa, senão fazer uma cesariana improvisada para salvar o bebê. No fim das contas, Sibyl acaba sendo acusada de homicídio, quando o Estado lança a hipótese de que ela fez a cesariana enquanto a mãe ainda estava viva.

O desenvolver da trama é narrado por Connie, filha de Sibyl Danforth, uma médica obstetra, que relembra o tempo em que a liberdade de sua mãe e a estrutura familiar esteve nas mãos de doze pessoas do júri popular. Aliás, as narrativas durante o julgamento são ótimas, com diálogos fortes e pesadas investidas, tanto da defesa quanto da acusação.

Os capítulos são entremeados por trechos interessantes do diário de Sibyl, que nos ajuda a entender o que se passou naquela trágica noite em que o parto fatídico aconteceu, assim como nos coloca mais próximo das angústias da autora, que embora se mostre uma parteira experiente, expõe todo o seu lado humano e frágil nas páginas de seu diário pessoal.

Um excelente entretenimento, que vai agradar a leitores que curtem histórias de tribunais, assim como também é um convite a uma reflexão mais de perto, sobre esse escapadiço universo das parteiras.

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