Não raro os livros nos permitem viajar através de mundos que,
embora aparentemente perto de nossa existência, nos escapam de entendimento e
interesse. Partos normais realizados em casa tem sido uma realidade cada vez
menos presente neste atual mundo sistêmico e desinformado, onde a oportunidade
de discernimento é arrancada da sociedade, restando-nos apenas deliberar por
caminhos oferecidos por planos de saúde mafiosos, que nos empurram goela abaixo
a direção do que temos que fazer como se fôssemos incapazes de pensar por nós
mesmos.
E em vez de a medicina trabalhar em busca do aperfeiçoamento
dos partos normais, sejam em hospitais ou no conforto do lar, o foco das
pesquisas toma como meta a precisão e rapidez dos partos cesarianos; método
artificial que avilta e desacelera o processo de recuperação da mãe.
Este belo livro intitulado O DIÁRIO DE SIBYL DANFORTH – PARTEIRA, embora seja um trabalho de
ficção, trás à tona esse tema: a contradição e rejeição social dos trabalhos de
partos em casa.
Chris Bohjalian se empenhou arduamente em pesquisas
e mergulhou a fundo no mundo das parteiras, deixando sua obra recheada de
conteúdo que nos ajuda a compreender um pouco melhor essa cabível, porém obscura,
ideia dos partos em casa. O autor esmiúça o mundo das parteiras e nos entrega
uma eficiente trama, que mescla em doses precisas, a realidade das parteiras
dentro de uma história bem elaborada.
E por falar em trama, esta se passa na comunidade rural de Reddington, Vermont, num rigoroso
inverno de 1981. A parteira que dá nome ao título da obra precisa tomar uma
decisão rápida para salvar um bebê, submetido aos seus cuidados. Uma decisão
que mudará a vida desta mulher para sempre.
No meio deste complicado parto, Sibyl percebe que a mãe sofre
morte cerebral e ela não vê alternativa, senão fazer uma cesariana improvisada
para salvar o bebê. No fim das contas, Sibyl acaba sendo acusada de homicídio,
quando o Estado lança a hipótese de que ela fez a cesariana enquanto a mãe
ainda estava viva.
O desenvolver da trama é narrado por Connie, filha de Sibyl
Danforth, uma médica obstetra, que relembra o tempo em que a liberdade de sua mãe
e a estrutura familiar esteve nas mãos de doze pessoas do júri popular. Aliás,
as narrativas durante o julgamento são ótimas, com diálogos fortes e pesadas
investidas, tanto da defesa quanto da acusação.
Os capítulos são entremeados por trechos interessantes do
diário de Sibyl, que nos ajuda a entender o que se passou naquela trágica noite
em que o parto fatídico aconteceu, assim como nos coloca mais próximo das
angústias da autora, que embora se mostre uma parteira experiente, expõe todo o
seu lado humano e frágil nas páginas de seu diário pessoal.
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