Ver o nome de Luiz
Fernando Verissimo estampado no alto da capa de um livro já é motivo mais
do que suficiente para que eu o retire da prateleira sem precisar ler a
sinopse. No entanto, este leitor apaixonado precisa confessar que Verissimo
funciona muito melhor como cronista.
De qualquer forma, estamos falando de um gênio da literatura
brasileira, e nesta obra intitulada OS
ESPIÕES, é possível encontrar algumas referências que são marcas do autor; propriedades
que transformam suas crônicas em textos divertidos, instigantes e atraentes.
A trama nos mostra o dia-dia de um escritor frustrado que
trabalha como olheiro numa pequena editora, cujo serviço consiste em analisar e
quase sempre rechaçar originais que lhe chegam aos montes. Mesclando à vida profissional
do personagem ainda existe sua vida familiar, que não ajuda muito. Portanto,
basicamente nosso herói passa seus dias contando as horas para a chegada da
sexta-feira, quando afoga as mágoas bebendo até perder a consciência.
Mas tudo muda quando ele recebe um envelope branco detendo
dados manuscritos em mãos trêmulas, onde seu conteúdo sustenta parte do que lhe
parece ser um instigante roteiro, intitulado apenas como “Ariadne”. No
original, a tal Ariadne descreve uma vida conflituosa com um marido que mais se
parece com um mafioso. Um bilhete faz indicativo de que se trata da primeira
parte de uma autobiografia, que o autor prefere interpretar como a confissão de
uma suicida em potencial, a qual dará cabo de sua vida no último capítulo.
Obcecado pelo original que vai chegando em fragmentos a
editora, nosso personagem reúne uma destemida equipe – os espiões do título –
para investigar o que se passa em Frondosa, cidade onde sua musa Ariadne vive.
A grande sacada de Veríssimo é que temos uma trama de
espionagem, só que segue irreverentemente cheia de deliciosas situações
hilárias, contradições, disfarces mal sucedidos e trapalhadas. É como se o
objetivo deixasse de ser a edição propriamente do livro de Ariadne, passando
para um tipo de ato heroico, onde a meta é salvar a pobre e indefesa dama do despotismo
que acomete sua vida.
Contudo, mesmo tendo por trás o impecável toque de Midas de Luiz Fernando Veríssimo, a história
acaba por se tornar um tanto ordinária. A evolução do texto segue bem água com
açúcar, tendo como amparo apenas as situações cômicas, que vez ou outra consegue
atrair nossa atenção.
Talvez eu tenha me deixado levar por uma alta expectativa, já
que sou admirador do trabalho deste autor, quando atuando como cronista, o que
me fez concluir que este livro esteja bem abaixo de seus demais trabalhos. O
término da leitura me deixou com uma sensação de que ficou faltando algo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário