Talvez a editora Record tenha cometido um equívoco ao
nominar o agradável trabalho a que se refere esta resenha, cujo título
certamente foi ofuscado pelo sucesso de outro livro de mesmo nome. E para quem
duvida desta constatação, basta fazer uma rápida pesquisa através do Google para verificar uma chuva de
informações e resenhas à cerca da obra Sob a Pele, escrita por Michel Faber; um sucesso que foi ainda
mais acentuada depois que Scarlett
Johansson encarnou a personagem do livro no cinema.
Mas aqui a conversa é sobre
o título-xará menos famoso, porém, a
escassez de notoriedade não condiz com o conteúdo da obra. Sob a Pele, dos escritores Nicci
e French, é um trabalho agradável de
ler e narrado sob a ótica de personagens eficientemente humanizados.
A trama, que não é lá essas
coisas, conta a história de três mulheres distintas, mas com algo em comum: são
alvos do mesmo assassino em série. Zoé é uma professora que vê sua vida banal
ser popularizada pelo envolvimento numa inusitada prisão de um ladrão de rua;
Jennifer é uma modelo de mãos aposentada, que vive o tédio de um casamento
aparentemente perfeito; e por fim temos Nádia, uma animadora de festas que leva
sua vida de forma despretensiosa e ciente da carência de perspectivas.
Aqui nada é inovador, a
narração é em primeira pessoa e dividida em capítulos que mostram o cotidiano
ordinário das personagens no exato tempo cronológico em que suas vidas são
tumultuadas por cartas anônimas que chegam cheias de ameaças de morte. Essa
montagem do livro feita por partes nos oferece o ângulo de visão de cada uma
das três mulheres. E é exatamente este o ponto forte da trama.
Os autores constroem
personalidades distintas em cada uma de suas protagonistas, de modo a nos
permitir proximidade ou distanciamento em diferentes perspectivas quanto ao que
elas sentem diante das progressivas ameaças. A leitura discorre fácil e macia,
fazendo suas quatrocentas e quarenta páginas fluir de maneira insinuante; uma
história narrada por personagens dotados de inseguranças, incertezas e irreverências,
características comuns que inevitavelmente nos acomete de empatia.
Zoé é uma mulher meiga e sensual, que mantém
um relacionamento improvável cuja única sustentação parece ser o sexo. Jennifer
é a menos agradável das três, mas mesmo seu jeito arrogante e entediado parece ter
sido propositalmente inserido, uma mulher que largou a carreira para
administrar o casamento defasado, o qual ela parece se ocupar para não ter que
enxergar a evidente decadência. Quanto a Nádia (a minha favorita do livro) é
uma mulher alegre, harmonizada e que não encuca com os estorvos da vida.
De modo geral, só acompanhar
de perto o dia a dia das três moças já valeria a leitura. Nem era preciso haver
um assassino para apimentar o enredo, que pouco ou nada segue uma linha de
suspense ou clássica de romances policiais. Quanto ao assassino, o achei um
pouco insosso, mas isso não chega a incomodar.
Contudo, é no aspecto coadjuvante
que os autores escorregam um pouco.
O livro é harmonioso em sua
narrativa na primeira pessoa, mas os personagens secundários parecem não
comungar do mesmo ritmo. Praticamente todos são medíocres, como se tivessem
sido esquecidos por seus criadores. Os investigadores de polícia são
atrapalhados, vão de um lado para o outro e nada solucionam; eles sequer se
aproximam do famigerado assassino (cometo aqui uma pequena gafe). Há também uma
psicóloga designada pelas autoridades; uma profissional séria, que até parece
querer engrenar, mas sua notoriedade logo é posta de lado. E ainda sobre o
vilão, este não foge a regra do abandono secundário, tendo como sua única
virtude a mera construção de cartas que denotam uma libido confusa e o anseio
por orquestrar seus intentos psicopatas.
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