terça-feira, 13 de dezembro de 2016

RESENHA DE LIVRO – SOB A PELE


Talvez a editora Record tenha cometido um equívoco ao nominar o agradável trabalho a que se refere esta resenha, cujo título certamente foi ofuscado pelo sucesso de outro livro de mesmo nome. E para quem duvida desta constatação, basta fazer uma rápida pesquisa através do Google para verificar uma chuva de informações e resenhas à cerca da obra Sob a Pele, escrita por Michel Faber; um sucesso que foi ainda mais acentuada depois que Scarlett Johansson encarnou a personagem do livro no cinema.

Mas aqui a conversa é sobre o título-xará menos famoso, porém, a escassez de notoriedade não condiz com o conteúdo da obra. Sob a Pele, dos escritores Nicci e French, é um trabalho agradável de ler e narrado sob a ótica de personagens eficientemente humanizados.

A trama, que não é lá essas coisas, conta a história de três mulheres distintas, mas com algo em comum: são alvos do mesmo assassino em série. Zoé é uma professora que vê sua vida banal ser popularizada pelo envolvimento numa inusitada prisão de um ladrão de rua; Jennifer é uma modelo de mãos aposentada, que vive o tédio de um casamento aparentemente perfeito; e por fim temos Nádia, uma animadora de festas que leva sua vida de forma despretensiosa e ciente da carência de perspectivas.

Aqui nada é inovador, a narração é em primeira pessoa e dividida em capítulos que mostram o cotidiano ordinário das personagens no exato tempo cronológico em que suas vidas são tumultuadas por cartas anônimas que chegam cheias de ameaças de morte. Essa montagem do livro feita por partes nos oferece o ângulo de visão de cada uma das três mulheres. E é exatamente este o ponto forte da trama.

Os autores constroem personalidades distintas em cada uma de suas protagonistas, de modo a nos permitir proximidade ou distanciamento em diferentes perspectivas quanto ao que elas sentem diante das progressivas ameaças. A leitura discorre fácil e macia, fazendo suas quatrocentas e quarenta páginas fluir de maneira insinuante; uma história narrada por personagens dotados de inseguranças, incertezas e irreverências, características comuns que inevitavelmente nos acomete de empatia.

 Zoé é uma mulher meiga e sensual, que mantém um relacionamento improvável cuja única sustentação parece ser o sexo. Jennifer é a menos agradável das três, mas mesmo seu jeito arrogante e entediado parece ter sido propositalmente inserido, uma mulher que largou a carreira para administrar o casamento defasado, o qual ela parece se ocupar para não ter que enxergar a evidente decadência. Quanto a Nádia (a minha favorita do livro) é uma mulher alegre, harmonizada e que não encuca com os estorvos da vida.

De modo geral, só acompanhar de perto o dia a dia das três moças já valeria a leitura. Nem era preciso haver um assassino para apimentar o enredo, que pouco ou nada segue uma linha de suspense ou clássica de romances policiais. Quanto ao assassino, o achei um pouco insosso, mas isso não chega a incomodar.

Contudo, é no aspecto coadjuvante que os autores escorregam um pouco.

O livro é harmonioso em sua narrativa na primeira pessoa, mas os personagens secundários parecem não comungar do mesmo ritmo. Praticamente todos são medíocres, como se tivessem sido esquecidos por seus criadores. Os investigadores de polícia são atrapalhados, vão de um lado para o outro e nada solucionam; eles sequer se aproximam do famigerado assassino (cometo aqui uma pequena gafe). Há também uma psicóloga designada pelas autoridades; uma profissional séria, que até parece querer engrenar, mas sua notoriedade logo é posta de lado. E ainda sobre o vilão, este não foge a regra do abandono secundário, tendo como sua única virtude a mera construção de cartas que denotam uma libido confusa e o anseio por orquestrar seus intentos psicopatas.

Sob a Pele não é um livro brilhante, mas é simpático e de leitura fácil, que talvez não agrade aos fãs de suspense... Bom, pelo menos até o dia em que uma versão cinematográfica, contendo Scarlett Johansson no elenco principal, surja para exumar esta obra de sua injusta esquife literária.

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