domingo, 18 de dezembro de 2016

RESENHA DE LIVRO – A PROFECIA DO PARAÍSO


Meu eu rabugento desconfiou imediatamente deste livro de nome pretensioso e capa requintada, no exato instante em que coloquei minhas mãos nele: certamente estaria levando pra casa mais do mesmo. Mas como gosto de, vez ou outra, conhecer o universo obscuro de autores dotados de mentes altamente imaginativas para o suspense ficcional, achei que seria pertinente dar uma chance a este A PROFECIA DO PARAÍSO.

E a experiência da leitura trouxe a amarga comprovação de minha desconfiança: trata-se de uma obra sem nenhuma singularidade, e um autor que parece optar pelo lugar-comum.

Na trama, acompanhamos a agente de um departamento secreto chamado “Seção” (uma espécie de CIA, só que no lugar de siglas, temos um nome mais tosco mesmo) que é intimada a investigar a morte de uma famosa cantora brasileira. A investigadora não demora a perceber que está trabalhando num imbricado quebra-cabeça sobrenatural, o qual fará cair por terra todo o seu ceticismo inabalável. E por se tratar de aparente caso relacionado a ocultismos, a “misteriosa” Seção lhe envia uma ajuda: um historiador perito em religiões, entediado, alcoólatra e sabe-tudo, que perdeu o gosto pela vida após sofrer uma grande perda.

Certamente os amantes de ficção já devem ter notado evidentes familiaridades no enredo. Pois como eu disse: temos aqui um autor que opta pelo lugar-comum.

O início da história se passa no Brasil, mais precisamente em São Paulo, onde ocorreu a morte da cantora Gabriela Soares. E na mesma proporção em que o autor ROBERT BROWNE não parece muito interessado em esclarecer alguns eventos de sua trama, ele faz questão de dar certas pinceladas na trama que parecem propositivas, como retratar os policiais brasileiros como sendo um bando de supersticiosos incompetentes que nada sabem fazer, além de demonstrarem seu temor irracional.

A investigadora Callahan é a construção da heroína perfeita: inteligente, segura, habilidosa, arrogante e o tempo inteiro parece ser o único profissional ponderado, capaz de enxergar o óbvio nas cenas dos crimes. Quanto ao seu improvisado parceiro, Sebastian LaLaurie, é um intelectual frustrado, que vive uma vida precária de dor após perder sua amada. É a personificação do enfado, entregue ao vício pelo álcool e que parece ter perdido o gosto pela vida.

Ambos os personagens, cujas construções de suas individualidades seguem o modelo padrão de sujeitos que se tornarão pessoas melhores quando chegarmos ao final feliz, acabam por remeter o leitor ao característico texto desgastado que torna o desfecho dos acontecimentos um tanto previsível.

Mas apesar dessa concepção maçante, a interação da dupla principal até chega a funcionar em alguns momentos de bons diálogos e suspense razoável.

Já os demais personagens parecem estar ali apenas para encher parágrafos; eles são todos, sem exceção, minimamente sem-graças; vilões passeando ao redor do mundo cheios de diálogos insossos e ações dignas de sessão da tarde; e mocinhos gélidos que se comportam de modo aleatório e vazio, até desencadearem num final chato e cheio de clichês.

Sei que esta resenha certamente desagradará aos leitores que gostaram do livro, mas sinceramente, por toda boa vontade que dispendi ao longo da leitura, eu não consegui encontrar nada louvável nesta ficção que se alterna do confuso ao previsível, no qual o autor tentou contar uma história, mas acabou deixando a impressão de que, na verdade, ele apenas recontou as memórias dos livros que já leu... Uma pena.

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