segunda-feira, 8 de maio de 2017

RESENHA DE LIVRO – A DAMA FANTASMA


Sem mais delongas: homem é acusado de assassinar a própria esposa, encontrada morta em sua casa, e a única pessoa que pode ajudar a atestar sua inocência e livrá-lo da cadeira elétrica, é uma mulher sem nome, sem rosto, sem ao menos alguma testemunha que a tenha visto junto ao protagonista na noite em que ocorreu o assassinato. Em suma, ela é a DAMA FANTASMA do título.

Apesar de uma capa agradável e um autor famoso por sua obra JANELA INDISCRETA, foi por conta desta curta e intrigante sinopse que levei este livro pra casa. Cornell Woolrich tenta desenvolver uma trama envolvente e enigmática, mas seu protagonista é apático, embora não chegue a ser repugnante. O livro também possui alguns instantes confusos, principalmente da metade em diante. E embora tudo seja explicado no decorrer da leitura, acabamos aterrissando num final que prova que apenas manter o mistério não garante o brilhantismo da obra.

Aborrecido por conta de tumultos conjugais, Scott Henderson sai pra noite para espairecer, encontra uma moça que aceita lhe fazer companhia, mesmo sem que haja formalismos triviais como trocar nomes ou qualquer informação sobre o outro. O casal entra num acordo inusitado e passa algumas horas na noite de Nova York, curtindo os prazeres boêmios de maneira descompromissada. O problema começa quando Henderson chega em casa e da de cara com uma equipe policial já em processo de investigação por conta da esposa encontrada morta no quarto. O cara se torna o principal suspeito e a única pessoa que pode comprovar que ele não esteve em casa no instante do crime é uma mulher sem nome, a qual ele não se lembra de nada, nem sequer de detalhes físicos. E pra piorar a situação, a polícia investiga todos os recintos em que o casal esteve, onde as pessoas afirmam reconhecer Henderson, mas ninguém parece se lembrar da mulher que esteve em sua companhia.

A situação do pobre condenado se torna tão improvável, que em alguns instantes chegamos a pensar que estamos diante de um caso de insanidade e que o final descambará num crime de delírio psicopata... Nisso, a obra tem sua genialidade.

Uma das melhores cenas do livro fica por conta da narração de uma moça sentada no balcão de um bar, encarrando de maneira acintosa e causando constrangimentos no barman. A narrativa detalhista do autor, circunstanciando uma relação de pura intimidação oriunda de um ser a subjugar outro com seu irrefreável olhar, é simplesmente extraordinária.

Mas nem tudo são acertos, e Cornell parece perder o fôlego conforme a trama avança. Achei que o autor se enrola um pouco da metade em diante, inserindo situações embaraçosas orquestradas em sua maioria por um novo personagem que surge para tentar ajudar o amigo condenado à morte. A história muda e ficamos com este personagem e suas investigações confusas, até chegarmos ao desfecho que, embora não fora previsível, passou longe de ser brilhante.

A DAMA FANTASMA é um thriller policial com ótima premissa, diálogos funcionais, protagonistas apáticos, situações enfadonhas e um final morno. Tem como ponto alto a narrativa, mas acho que ficou devendo no modo com que algumas circunstâncias foram expostas.

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