Confesso que sustentei certa
desconfiança quando chegou a vez de ler este A NOITE MAIS ESCURA DO ANO. Sim, pois alguém havia comentado na
internet que o livro era religioso demais. E embora o autor Dean Koontz não tenha nenhum pudor em inserir
uma veia religiosa em seu trabalho, meu pessimismo foi se desfazendo ao longo
da leitura, mesmo que a experiência final é de ter terminado de ler uma obra
mediana.
A trama possui personagens
relativamente bem construídos. Os diálogos são convincentes e coesos, vez ou
outra o leitor encontra sacadas irônicas que nos permite certa proximidade
identitária. Amy Redwing é uma mulher com um passado misterioso, que encontrou
na função de resgatar Golden Retrievers
vítimas de maus tratos, um sentido em sua vida. Ela é ajudada pelo namorado,
Brian McCarthy, mesmo que este considere a moça um tanto imprudente e impetuosa.
E como só poderia acontecer em enredos dotados de certa profundidade, o velho
Brian também possui um passado espreitando ao seu redor.
Uma coisa que gostei muito
neste autor é quanto ao seu detalhismo elegante. Dean Koontz sabe construir cenários escritos com tamanha eloquência
que acabam grudando na mente do leitor. Outro aspecto que me agradou bastante é
a forma como ele discorre sobre uma literatura na qual cães são quase que
protagonistas principais, mesmo perante essa dificuldade de narrar seres que
não verbalizam, a história se tornou enriquecida pelas situações protagonizadas
pelos animais. Os cachorros parecem mesmo cachorros, se é que esta definição
tenha algum sentido... Mas acredito que do ponto de vista literário, só mesmo
grandes narradores são capazes de dar vida a seres dotados apenas de linguagem
corporal ou comunicação limitada.
Mas infelizmente a obra não
é dotada somente de aprazimentos. E alguns aspectos incomodaram um pouco. O
primeiro deles fica por conta justamente dos cães. E se a você também pareceu
estranha a menção sobre o ofício da protagonista ser, de fato, resgatar Golden Retrievers abandonados ou que
foram vítimas de maus tratos, eu passei grande parte da leitura procurando
entender a lógica de uma organização empenhada em cuidar de uma raça
específica, em vez de se ater a cães abandonados de um modo geral.
É claro que a explicação
para isso é óbvia: o autor tem elevado fascínio por Golden Retrievers. No entanto, esta especificidade me fez pensar
nos personagens como sendo agentes em prol de uma raça peculiar, e que os
mesmos passariam batido se cruzassem com um vira-lata abandonado na rua. É uma
espécie de limite do altruísmo.
A linguagem religiosa de
fato está inserida com certa frequência, como foi observado pelo comentário que
li na internet. Mas os caprichos dialogais e os detalhes enriquecidos das
situações narrativas ofuscam os conceitos dogmáticos do autor, impedindo que
estes incomodem muito. Talvez pior do que a mera inclinação mística de Dean Koontz, seja sua tentativa de
construir características claras do que distinguiriam pessoas boas de ruins; o
autor procura separar o joio do trigo como se seres humanos fossem constituídos
por identidades de fácil percepção; como se a maledicência fosse inerente a
certo tipo de pessoa.
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