Enquanto permaneço sentado
em frente ao computador, pensando em como iniciar esta resenha, vem-me a noção
de que estou agora mesmo fazendo parte de um ciclo interminável de causa e
efeito. E mesmo sozinho em casa, desempenhando função aparentemente inócua, os
efeitos de qualquer frivolidade parecem inevitáveis. Sim, pois a inação também
é uma escolha que surte em consequências. E toda consequências também é causa
que gera mais efeito...
Afinal, enquanto me tranco
em casa e me escondo do resto do mundo, situações seguirão determinado curso
que poderiam ter sido diferente se eu fosse um sujeito menos fechado dentro de
meu próprio universo.
Outro exemplo que me ocorre
foi um acidente que quase me aconteceu. Eu estava dirigindo quando me lembrei
de que estava sem o cinto de segurança. Parei no acostamento para afivelar e
segui viagem. Minutos depois um carro enlouquecido cruzou em minha frente e
tive que frear bruscamente. Por uma questão de centímetros a colisão não
aconteceu, algo que talvez tivesse sido inevitável, caso eu não tivesse parado
por alguns segundos para colocar o cinto.
As razões pelas quais fiz
esta inusitada introdução, se devem ao fato de que estes três parágrafos iniciais
são, basicamente, a essência por trás deste ótimo trabalho intitulado ONZE.
Como se fossem peças de
dominó que despencam e atingem umas às outras, ações e inações das pessoas geram
efeitos que se tornam mais ações, e assim sucessivamente.
O autor Mark Watson fez um ótimo trabalho no enredo, amarrando situações de
seus personagens para nos mostrar o lado delicado da existência humana, onde um
ato insignificante esbarra noutro até que uma enorme redoma de consequências
inevitáveis transforma o mundo; é o bater de asa de uma borboleta que culmina
num tornado do outro lado do planeta.
Exagero à parte, a história
é bem contata. Xavier Ireland é um locutor de rádio que apresenta um programa
que ajuda a aliviar a solidão durante as madrugadas da população londrina. E
como qualquer ser humano que viveu traumas no passado, o personagem é o
resultado existencial da tentativa de começar de novo. E embora as dores
continuem a espreitar em seu ser, Xavier tentar levar sua existência de modo
alheio, pois a experiência lhe ensinou que é mais seguro manter distância de
outros indivíduos.
Em determinado momento seu
passado nos é revelado, e junto à consternação inevitável, o leitor passa a
entender sua natureza indiferente. Enquanto isso, a avalanche de causa e efeito
segue seu rumo irrefreável, metamorfoseando algumas vidas e anulando outras.
Talvez a resenha esteja
soando um pouco abstrata, mas acredito que esta belíssima obra deva ser degustada
exatamente desse modo, pois há vários personagens entremeados sem que quase
nada se conte sobre eles; como se pudéssemos ver apenas a ponta do iceberg. E
desse ponto de vista ONZE funciona
como leitura intensa e refinada; um romance sobre seres humanos seguindo com
suas tomadas de decisões impensadas, dentro de um ciclo interminável e sutil de
prejuízos que serão causas de outros mais...
Nenhum comentário:
Postar um comentário