terça-feira, 26 de dezembro de 2017

RESENHA DE LIVRO – ONZE


Enquanto permaneço sentado em frente ao computador, pensando em como iniciar esta resenha, vem-me a noção de que estou agora mesmo fazendo parte de um ciclo interminável de causa e efeito. E mesmo sozinho em casa, desempenhando função aparentemente inócua, os efeitos de qualquer frivolidade parecem inevitáveis. Sim, pois a inação também é uma escolha que surte em consequências. E toda consequências também é causa que gera mais efeito...

Afinal, enquanto me tranco em casa e me escondo do resto do mundo, situações seguirão determinado curso que poderiam ter sido diferente se eu fosse um sujeito menos fechado dentro de meu próprio universo.

Outro exemplo que me ocorre foi um acidente que quase me aconteceu. Eu estava dirigindo quando me lembrei de que estava sem o cinto de segurança. Parei no acostamento para afivelar e segui viagem. Minutos depois um carro enlouquecido cruzou em minha frente e tive que frear bruscamente. Por uma questão de centímetros a colisão não aconteceu, algo que talvez tivesse sido inevitável, caso eu não tivesse parado por alguns segundos para colocar o cinto.

As razões pelas quais fiz esta inusitada introdução, se devem ao fato de que estes três parágrafos iniciais são, basicamente, a essência por trás deste ótimo trabalho intitulado ONZE.

Como se fossem peças de dominó que despencam e atingem umas às outras, ações e inações das pessoas geram efeitos que se tornam mais ações, e assim sucessivamente.

O autor Mark Watson fez um ótimo trabalho no enredo, amarrando situações de seus personagens para nos mostrar o lado delicado da existência humana, onde um ato insignificante esbarra noutro até que uma enorme redoma de consequências inevitáveis transforma o mundo; é o bater de asa de uma borboleta que culmina num tornado do outro lado do planeta.

Exagero à parte, a história é bem contata. Xavier Ireland é um locutor de rádio que apresenta um programa que ajuda a aliviar a solidão durante as madrugadas da população londrina. E como qualquer ser humano que viveu traumas no passado, o personagem é o resultado existencial da tentativa de começar de novo. E embora as dores continuem a espreitar em seu ser, Xavier tentar levar sua existência de modo alheio, pois a experiência lhe ensinou que é mais seguro manter distância de outros indivíduos.

Em determinado momento seu passado nos é revelado, e junto à consternação inevitável, o leitor passa a entender sua natureza indiferente. Enquanto isso, a avalanche de causa e efeito segue seu rumo irrefreável, metamorfoseando algumas vidas e anulando outras.

Talvez a resenha esteja soando um pouco abstrata, mas acredito que esta belíssima obra deva ser degustada exatamente desse modo, pois há vários personagens entremeados sem que quase nada se conte sobre eles; como se pudéssemos ver apenas a ponta do iceberg. E desse ponto de vista ONZE funciona como leitura intensa e refinada; um romance sobre seres humanos seguindo com suas tomadas de decisões impensadas, dentro de um ciclo interminável e sutil de prejuízos que serão causas de outros mais...

É um livro simplesmente fascinante!

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