quarta-feira, 16 de maio de 2018

RESENHA DE LIVRO – Guia Politicamente Incorreto da Filosofia


A maior virtude que sempre se pode evidenciar quando se assiste a uma palestra do filósofo Luiz Felipe Pondé é quanto da sua explanação simples, direta e permeada de ideias inteligíveis e atuais. Pondé usa de recursos cândidos para se entender a análise por ele proposta. E este método agrada ao expectador porque a oratória se torna alcançável a quaisquer tribos.

Por conta desta constatação que resolvi ir além dos cafés filosóficos internet afora, para ler um pouco da obra deste autor. E comecei justamente por este controverso GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA.

Controverso porque a premissa da obra é exatamente esta: causar desconforto em um tipo específico de ser humano muito comum em nosso mundo contemporâneo: o famigerado politicamente correto. O ódio jurado pelo autor sobre a hipocrisia de nossos tempos é declarado já nas primeiras páginas. E Pondé faz questão de reafirmar esta cólera em vários instantes e dentro de diferentes assuntos.

O texto em si é muito bom, de linguagem acessível e naquela pegada estilo conversa de boteco. Incomoda um pouco a ausência de divagações e reflexões continuadas, tão comuns na filosofia. Portanto, ler o título da obra bem naquela capa cheia de grandes nomes da filosofia, nos deixa com uma sensação de estar sendo enganado pelo marketing de vendas do livro. Sim, pois aqui não há o conteúdo histórico filosófico que proposto como alvo de análise do autor. O que realmente nos deparamos é com um ensaio cheio de ironias diretas aos males contemporâneos apontados por Pondé.

A contundência é tão exagerada em alguns momentos que acaba parecendo forçado ou um extremismo de direita (hipótese que considero menos provável) que se ressente com algumas mudanças de inclusão social. E embora o conteúdo seja atual e pertinente, a discrepância no título, na capa e na posição do autor como filósofo, faz com que tudo pareça comercial demais e filosófico de menos.

A diagramação também parece convenientemente servir para “encher linguiça”. O conteúdo escrito do livro poderia muito bem ser editado em menos de 100 páginas. Mas aqui temos uma extensa obra com mais de 230 páginas, infestadas de folhas em branco ou ilustrações que reproduzem a capa (seria um modo de encarecer a obra?).

Contudo, encarar este volume como um guia pode facilitar na aceitação de sua leitura; Pondé usa de uma leitura breve e simples, que serve como porta de entrada para o leitor que queira aprofundar mais nos temas e autores citados. Não é um livro de teor acadêmico e talvez este seja seu grande brilho, desde que assim você o encare. O autor destila sua opinião ofensiva quase como se fosse uma metralhadora, mas aprofunda pouco na sustentação (característica típica de um guia). No entanto, este ataque, por ser generalizado, acaba incomodando, principalmente vindo de um filósofo. Em alguns momentos faz parecer que Pondé está usando as mesmas ferramentas que tanto critica na cultura do Politicamente Correto: a opinião rasa e frívola.

Vale pela crítica ao mundo idealizado da cultura “inteligentinha” que não para de crescer. Mas achei que Luiz Felipe Pondé poderia ter tomado certa cautela em sua análise textual, justamente para não parecer que ele mesmo sofre de estar confinado em um universo fechado e restrito que tanto nubla e idiotiza a praga do politicamente correto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário