sábado, 4 de agosto de 2018

A ENCRENCA EM SETE PARÁGRAFOS – DESEJO


Quando eu era bem jovem, lá no início da adolescência, escutava meus prazerosos rocks em fitas cassetes, muitas delas gravadas de programação de rádio com direito até aquelas malditas vinhetas que o locutor insistia em soltar antes do término da canção. Depois vieram os dvds e aí a coisa ficou bem mais agradável; não havia mais vinhetas horríveis, músicas quebradas, eu agora poderia comprar meus discos favoritos, mas como a grana era sempre curta, eu mandava gravar e ficava tudo ótimo... Então, eis que surgiu a internet, e com ela vieram vídeos, as mídias em MP3, os recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados... Atualmente, tenho um vasto acervo de música cuja maior notoriedade é mostrar o quanto continuo desejando acumular rock, e cada vez mais insatisfeito ou deprimido por pensar que está me faltando algo...

Ou seja, minha antiga precariedade que se resumia em algumas fitas K7 gravadas sem nenhuma qualidade notória, foi substituída por arquivos de alta qualidade, vídeos em HD, shows com áudio que fidelizam a precisão das guitarras, e eu continuo querendo mais.

Os budistas têm razão quando dizem que desejar incessantemente traz um grande problema: impede que eu note a beleza do lugar em que me encontro.

O desejo irrefreável nos torna infeliz. Porque dentro dessa perspectiva interminável do querer, eu deixo de apreciar o que está ao meu alcance, torna meu olhar inclinado a ver apenas o pior de cada situação, por melhor que ela tenha se transformado em relação há outros tempos, exatamente como ocorreu com a evolução das mídias de rock que eu tanto amo.

É claro que a ausência total de desejo, ou seja, uma pessoa que não cobiça absolutamente nada está fadada a passar a vida inteira estagnada num lugar perigoso conhecido como zona de conforto; pessoas desprovidas de desejo não avançam, não realizam nada...

Portanto, se sempre haverá algo a se desejar, se sabemos de nossa eterna insatisfação com tudo, então o problema não está em querer algo, mas como quase costumeiramente ocorre, somos nós o grande empecilho de nós mesmo, simplesmente pela falta de equilíbrio.

Precisamos nos livrar da ânsia por consumir de forma desenfreada e irracional, pois somente desse modo conseguiremos adentrar na apreciação daquilo que temos, sejam virtudes, conquistas ou bens materiais. Pois como advertia o filósofo Nietzsche: “Em última análise, ama-se o nosso desejo, e não o objeto desejado”. Tomara que consigamos superar isso.

2 comentários:

  1. O nosso anseio é por sentir o desejo. Nietzsche definiu bem essa fraqueza humana.

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    1. Ou seja, vivemos tentando encher um saco sem fundo...rs. Valeu por sua visita, Eliane!

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