Quando eu era bem jovem, lá no
início da adolescência, escutava meus prazerosos rocks em fitas cassetes,
muitas delas gravadas de programação de rádio com direito até aquelas malditas
vinhetas que o locutor insistia em soltar antes do término da canção. Depois vieram
os dvds e aí a coisa ficou bem mais agradável; não havia mais vinhetas
horríveis, músicas quebradas, eu agora poderia comprar meus discos favoritos,
mas como a grana era sempre curta, eu mandava gravar e ficava tudo ótimo...
Então, eis que surgiu a internet, e com ela vieram vídeos, as mídias em MP3, os
recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados... Atualmente, tenho um vasto
acervo de música cuja maior notoriedade é mostrar o quanto continuo desejando
acumular rock, e cada vez mais insatisfeito ou deprimido por pensar que está me faltando
algo...
Ou seja, minha antiga precariedade
que se resumia em algumas fitas K7 gravadas sem nenhuma qualidade notória, foi
substituída por arquivos de alta qualidade, vídeos em HD, shows com áudio que
fidelizam a precisão das guitarras, e eu continuo querendo mais.
Os budistas têm razão quando
dizem que desejar incessantemente traz um grande problema: impede que eu note a
beleza do lugar em que me encontro.
O desejo irrefreável nos
torna infeliz. Porque dentro dessa perspectiva interminável do querer, eu deixo
de apreciar o que está ao meu alcance, torna meu olhar inclinado a ver apenas o
pior de cada situação, por melhor que ela tenha se transformado em relação há
outros tempos, exatamente como ocorreu com a evolução das mídias de rock que eu
tanto amo.
É claro que a ausência total
de desejo, ou seja, uma pessoa que não cobiça absolutamente nada está fadada a
passar a vida inteira estagnada num lugar perigoso conhecido como zona de
conforto; pessoas desprovidas de desejo não avançam, não realizam nada...
Portanto, se sempre haverá
algo a se desejar, se sabemos de nossa eterna insatisfação com tudo, então o
problema não está em querer algo, mas como quase costumeiramente ocorre, somos nós o
grande empecilho de nós mesmo, simplesmente pela falta de equilíbrio.
O nosso anseio é por sentir o desejo. Nietzsche definiu bem essa fraqueza humana.
ResponderExcluirOu seja, vivemos tentando encher um saco sem fundo...rs. Valeu por sua visita, Eliane!
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