A premissa desta obra é até muito
boa: através do olhar depressivo de seu personagem, Bile Negra tenta trazer à tona a complexidade existencial do ser
humano. A trama segue envolta da história de Iago, um jovem que vivencia extremos
de seu próprio vazio após se mudar para a cidade grande.
O clima é conduzido como se
fosse uma narrativa terapêutica, o personagem principal expõe seus conflitos e
emoções de forma crua e direta. Relatos que exploram o lado complexo e
sombrio do homem, e no meio do caos, nós acompanhamos também outros personagem
que vivem crises semelhantes. Tudo aqui parece ser de fato um documentário factual
sobre pacientes que fazem terapia.
Pois é justamente neste
aspecto que o livro acaba derrapando, ou melhor, exagerando um pouco.
Bile
Negra foi escrita por um médico especializado em psiquiatria. Alexandre Loch conhece muito bem o
terreno em que está pisando, sabe documentar de modo preciso a angústia
inerente das pessoas. Mas lhe escapa uma pegada mais crônica e menos
documental, exatamente o brilho que faltou para que sua obra progredisse do
modo menos informativo e mais literal; a sedução lhe escapou por quase todo o
texto.
Quando estamos acompanhando
os relatos de Iago, quase podemos vislumbrar uma esplendorosa narrativa. Porém,
o autor sai do personagem para forçar a barra com relatos contínuos de outros
personagens que também foram acometidos pela obscura depressão. Isso não teria
sido um problema, caso a obra seguisse por uma linha semelhante às dores
desnudadas de modo informal e humanista, como acontece quando estamos diante
dos relatos de Iago, mas Alexandre
Loch opta por uma pegada mais informativa e técnica, deixando uma sensação
de que estamos lendo um dossiê ou uma reportagem de jornal.
Mesmo assim, Bile Negra consegue ter vigor; em
muitos instantes convida o leitor à reflexão pessoal e deliberar sobre os
próprios entraves de sua existência. Só o que incomodou foi justamente a
perceptível indecisão do autor, que pareceu não saber se queria entregar um romance
dramático ou se uma sessão de terapia destinada à pacientes depressivos.
O último capítulo denominado
“Libertação” parece expor de fato essa premissa: a narrativa da jornada do
herói, que atravessa os estágios em formato de “U”, ascensão, queda e finalmente
a reabilitação de si mesmo. Um claro intento da epopeia motivacional, quase uma
autoajuda.
NOTA: 5,2
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