“O homem que trabalha perde
um tempo precioso”.
(proverbio
espanhol)
“Quem trabalha demais quase não tem tempo
para ganhar dinheiro”
(dito
popular)
Estas duas máximas,
contraditórias numa sociedade que idolatra o trabalho, resumem a ideia por trás
deste atual e decente volume reflexivo. O
ÓCIO CRIATIVO propõe analisar de modo provocativo a sociedade
pós-industrial que condena e desvaloriza a criatividade e o tempo livre.
Mesmo em pleno avanço
sociológico, a quebra de diversos entraves sociais não acontece facilmente. Alguns
temas ainda continuam soando-nos como sagrados; sendo o trabalho um destes. O
tabu é abordado sob a perspectiva com que o sociólogo italiano, Domenico De Masi, sugere: o
desprendimento do período industrial que adestrou o ser humano ao labor de modo
irracional e desnecessário.
A obra foi construída em
diálogos. Trata-se de um bate-papo, uma entrevista que De Masi concedeu à Maria Serena Palieri. Ou seja, a temática
do ócio aqui será analisada de maneira informal e descontraída, o que deixa a
leitura bem mais fluida.
A premissa de uma sociedade
majoritariamente estabelecida no ócio, livrando-se finalmente das agruras do
expediente exacerbado e sem sentido, parece-nos um lugar belo de se viver na
teoria, mas que na prática infelizmente ainda não faz parte do pensamento
medieval da classe trabalhadora. Ter um emprego de 44 horas semanais ainda é
sinônimo de dignidade e definidora de bom cidadão. E embora todos nós
trabalhadores possamos ser dignos e éticos, o atestado para tal parece carecer
de uma carteira assinada.
O intento do autor neste
ótimo diálogo não é o de incitar o trabalho como um adversário do homem pós-moderno,
mas estimular a reflexão sobre os males que a obsessão com a labuta vem
causando na humanidade; segundo De Masi é uma enorme contradição que empresas
ainda contratem pessoas medíocres e fúteis, simplesmente por seu caráter
manipulável; que a criatividade não pode ser exercida em espaço despótico, onde
a repetição sem sentido prolifera constante; que a burocratização é um mal
progressivo que impede a autonomia inventiva e gera desníveis salariais.
É sabido que este tipo de
assunto parece-nos paradoxal neste mundo onde o desemprego prolifera mesmo nas
grandes e desenvolvidas metrópoles. Contudo, o autor não se comporta como um
utópico apaixonado; de fato, suas ideias invocam o tema do desemprego de modo
atual, denotando as mazelas oriundas do sistema capitalista que parece investir
demais em ferramentas tecnológicas e de menos no material humano, que segundo De
Masi, é o único detentor da possibilidade de criatividade na natureza. Esquecer-se
do desenvolvimento humano para se concentrar em máquinas é o que tem gerado
crises econômicas e desempregos em proporções astronômicas.
NOTA: 8,4
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