quinta-feira, 20 de junho de 2019

RESENHA DE LIVRO – O ÓCIO CRIATIVO


“O homem que trabalha perde um tempo precioso”.
(proverbio espanhol)

Quem trabalha demais quase não tem tempo para ganhar dinheiro
(dito popular)

Estas duas máximas, contraditórias numa sociedade que idolatra o trabalho, resumem a ideia por trás deste atual e decente volume reflexivo. O ÓCIO CRIATIVO propõe analisar de modo provocativo a sociedade pós-industrial que condena e desvaloriza a criatividade e o tempo livre.

Mesmo em pleno avanço sociológico, a quebra de diversos entraves sociais não acontece facilmente. Alguns temas ainda continuam soando-nos como sagrados; sendo o trabalho um destes. O tabu é abordado sob a perspectiva com que o sociólogo italiano, Domenico De Masi, sugere: o desprendimento do período industrial que adestrou o ser humano ao labor de modo irracional e desnecessário.

A obra foi construída em diálogos. Trata-se de um bate-papo, uma entrevista que De Masi concedeu à Maria Serena Palieri. Ou seja, a temática do ócio aqui será analisada de maneira informal e descontraída, o que deixa a leitura bem mais fluida.

A premissa de uma sociedade majoritariamente estabelecida no ócio, livrando-se finalmente das agruras do expediente exacerbado e sem sentido, parece-nos um lugar belo de se viver na teoria, mas que na prática infelizmente ainda não faz parte do pensamento medieval da classe trabalhadora. Ter um emprego de 44 horas semanais ainda é sinônimo de dignidade e definidora de bom cidadão. E embora todos nós trabalhadores possamos ser dignos e éticos, o atestado para tal parece carecer de uma carteira assinada.

O intento do autor neste ótimo diálogo não é o de incitar o trabalho como um adversário do homem pós-moderno, mas estimular a reflexão sobre os males que a obsessão com a labuta vem causando na humanidade; segundo De Masi é uma enorme contradição que empresas ainda contratem pessoas medíocres e fúteis, simplesmente por seu caráter manipulável; que a criatividade não pode ser exercida em espaço despótico, onde a repetição sem sentido prolifera constante; que a burocratização é um mal progressivo que impede a autonomia inventiva e gera desníveis salariais.

É sabido que este tipo de assunto parece-nos paradoxal neste mundo onde o desemprego prolifera mesmo nas grandes e desenvolvidas metrópoles. Contudo, o autor não se comporta como um utópico apaixonado; de fato, suas ideias invocam o tema do desemprego de modo atual, denotando as mazelas oriundas do sistema capitalista que parece investir demais em ferramentas tecnológicas e de menos no material humano, que segundo De Masi, é o único detentor da possibilidade de criatividade na natureza. Esquecer-se do desenvolvimento humano para se concentrar em máquinas é o que tem gerado crises econômicas e desempregos em proporções astronômicas.

Domenico De Masi é um árduo defensor da economia criativa; espaços que possam unir o trabalho, prazer e criatividade. Menos autoritarismo por parte das instituições públicas e privadas é o que pode proporcionar o livre pensar criativo, que segundo o autor, trata-se de um futuro inevitável; ainda distante do pensamento consumista da civilização, mas ainda assim, inevitável.

NOTA: 8,4

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