A temática proposta neste
livro é amplamente rica. O universo da indústria farmacêutica é um espaço em
que se é possível extrair inúmeros enredos, principalmente por se tratar de uma
área científica que oscila entre a necessidade do desenvolvimento de
medicamentos eficientes e o enriquecimento ilícito por conta da proliferação
dos mesmos.
REMÉDIO
AMARGO é engajado dentro dessa premissa: um laboratório
renomado está lançando no mercado um novo produto para mulheres grávidas com a
promessa de revolucionar a indústria e salvar a companhia da falência. E embora
haja entusiasmo por parte dos colaboradores, paira um enorme medo de que se
repita o fracasso de um medicamento similar no passado. No meio disso,
acompanhamos a escalada da protagonista principal, Célia Jordan, uma mulher
determinada que tenta superar o desafio do machismo no mercado de trabalho da
década de 60, e usando de sua irrefreável ambição, galgar o topo da cadeia
alimentar.
O autor aqui é o aclamado Arthur Hailey, que dispensa
apresentações. Neste trabalho, que foi seu último em vida, temos uma trama
muito técnica e cheia de intrigas dentro da temática proposta, mas que derrapa
em alguns aspectos... Vamos a eles:
Como eu já mencionei, há
aqui uma enorme explanação procedimental a cerca dos bastidores da indústria
farmacêutica, o que comprova o engajamento do autor em pesquisar o assunto pretendido
por sua obra. No entanto, Arthur Hailey
parece mais preocupado com especificidades burocráticas e o funcionamento do
sistema, do que propriamente em inserir complexidades éticas na conduta de seus
personagens, algo que ajudaria a elevar a dúvida de forma constante na cabeça
do leitor. A trama até nos mostra a problemática moral do interesse ganancioso
na diretoria da indústria, mas o faz de modo superficial, parece algo
unilateral que precisa estar ali, mas que não é isso o que deve ser contado.
O autor aparentemente está
mais interessado em promover sua personagem principal. Célia é exaltada aqui de
um modo insistente que quase fez da moça uma existência improvável; ela é
impetuosa, forte, determinada, bela, altiva, perfeita, possui um instinto
infalível de antecipar problemas e os coadjuvantes comportam-se de modo a
exaltar isso com exagerada reverência e submissão. Arthur Hailey até chega a tentar inserir imperfeições em Célia, mas
o faz de modo tímido e logo retoma os louvores inflamados a cerca de sua musa.
Célia Jordan é retratada como se fosse uma heroína infalível de desenho
animado; uma espécie arquétipo mitológico que o autor entrega de maneira
patologicamente apaixonada... Sério, gente, isso cansa demais!
Outra coisa que me incomodou
é condução extremamente prolixa. Há cenas aqui que são desnecessárias demais,
como reuniões para tratar de assuntos com equipes de publicitários e advogados
da companhia; instantes enfadonhos que quase me fizeram desistir da leitura e
tornaram o livro assustadoramente extenso.
Os diálogos também não são
orgânicos, eles deixam a impressão de que estamos lendo máquinas programadas
que conversam entre si, sem a menor naturalidade ou improviso. Há aqui uma
escassez enorme de sensibilidade narrativa. Um exemplo disso são as crianças,
que quando surgem nos diálogos são artificiais como personagens de uma
propaganda de margarina.
NOTA: 4,1
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