quinta-feira, 13 de junho de 2019

RESENHA DE LIVRO – REMÉDIO AMARGO


A temática proposta neste livro é amplamente rica. O universo da indústria farmacêutica é um espaço em que se é possível extrair inúmeros enredos, principalmente por se tratar de uma área científica que oscila entre a necessidade do desenvolvimento de medicamentos eficientes e o enriquecimento ilícito por conta da proliferação dos mesmos.

REMÉDIO AMARGO é engajado dentro dessa premissa: um laboratório renomado está lançando no mercado um novo produto para mulheres grávidas com a promessa de revolucionar a indústria e salvar a companhia da falência. E embora haja entusiasmo por parte dos colaboradores, paira um enorme medo de que se repita o fracasso de um medicamento similar no passado. No meio disso, acompanhamos a escalada da protagonista principal, Célia Jordan, uma mulher determinada que tenta superar o desafio do machismo no mercado de trabalho da década de 60, e usando de sua irrefreável ambição, galgar o topo da cadeia alimentar.

O autor aqui é o aclamado Arthur Hailey, que dispensa apresentações. Neste trabalho, que foi seu último em vida, temos uma trama muito técnica e cheia de intrigas dentro da temática proposta, mas que derrapa em alguns aspectos... Vamos a eles:

Como eu já mencionei, há aqui uma enorme explanação procedimental a cerca dos bastidores da indústria farmacêutica, o que comprova o engajamento do autor em pesquisar o assunto pretendido por sua obra. No entanto, Arthur Hailey parece mais preocupado com especificidades burocráticas e o funcionamento do sistema, do que propriamente em inserir complexidades éticas na conduta de seus personagens, algo que ajudaria a elevar a dúvida de forma constante na cabeça do leitor. A trama até nos mostra a problemática moral do interesse ganancioso na diretoria da indústria, mas o faz de modo superficial, parece algo unilateral que precisa estar ali, mas que não é isso o que deve ser contado.

O autor aparentemente está mais interessado em promover sua personagem principal. Célia é exaltada aqui de um modo insistente que quase fez da moça uma existência improvável; ela é impetuosa, forte, determinada, bela, altiva, perfeita, possui um instinto infalível de antecipar problemas e os coadjuvantes comportam-se de modo a exaltar isso com exagerada reverência e submissão. Arthur Hailey até chega a tentar inserir imperfeições em Célia, mas o faz de modo tímido e logo retoma os louvores inflamados a cerca de sua musa. Célia Jordan é retratada como se fosse uma heroína infalível de desenho animado; uma espécie arquétipo mitológico que o autor entrega de maneira patologicamente apaixonada... Sério, gente, isso cansa demais!

Outra coisa que me incomodou é condução extremamente prolixa. Há cenas aqui que são desnecessárias demais, como reuniões para tratar de assuntos com equipes de publicitários e advogados da companhia; instantes enfadonhos que quase me fizeram desistir da leitura e tornaram o livro assustadoramente extenso.

Os diálogos também não são orgânicos, eles deixam a impressão de que estamos lendo máquinas programadas que conversam entre si, sem a menor naturalidade ou improviso. Há aqui uma escassez enorme de sensibilidade narrativa. Um exemplo disso são as crianças, que quando surgem nos diálogos são artificiais como personagens de uma propaganda de margarina.

REMÉDIO AMARGO é um livro de título instigantes, conduzido por autor renomado e de trama que não soube explorar o extenso universo de seu tema. É um trabalho que passa suas quase quinhentas páginas tentando transformar a protagonista principal numa espécie de bond-girl, esquecendo-se de seus outros personagens que poderiam ter contribuído para elevar a dinâmica da história... Uma pena.

NOTA: 4,1

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