quarta-feira, 3 de julho de 2019

RESENHA DE LIVRO – HISTÓRIAS DA MEIA NOITE


Já que o próprio mestre Machado de Assis sugere o lado despretensioso de sua obra ao dizer que são “escritos apenas ao correr da pena”, achei que caberia uma breve explanação sobre este insigne HISTÓRIAS DA MEIA-NOITE, visto que não costumo resenhar grandes clássicos.

Para se ler o mestre nos tempos de hoje é preciso que seja levado em consideração dois aspectos: 1) Machado de Assis é um homem do seu tempo, ou seja, reeditar a linguagem para tornar sua literatura mais acessível certamente aviltaria a essência da linguagem, a qual eu considero fundamental. Adotar o dialeto desusado como desculpa para não ler grandes autores do passado soa-me como falta de gosto pelo esforço... Isso é preguiça mesmo! 2) nunca se deixe enganar pelo teor muitas vezes indiferente adotado pelo autor (sua condução narrativa, vez ou outra, dá-nos a impressão de que o texto não quer chegar a lugar algum). Sempre há por trás da literatura Machadiana uma premissa irônica e sagaz, que descortina a problemática social daquela época.

Feitas as observações, vamos falar do livro:

HISTÓRIAS DA MEIA-NOITE é uma compilação de contos que foram publicados originalmente num jornal que circulou no período de 1863 até 1878. Os seis contos que aqui se encontram reunidos, naquele tempo eram destinados às leitoras, público que ainda estava em ascensão.

Sob um olhar menos imersivo, o livro pode soar meio raso, de contos sem grande relevância. Mas de um ponto de vista mais analítico, a narrativa reunida nesta obra se revela um pouco mais sutil, e apresenta o típico cenário social de um tempo em que vaidade e ganancia pairavam constantes nos costumes, principalmente da famigerada burguesia (ué, mas será que mudou alguma coisa atualmente?).

Caso seja assertivo este último parêntese que fiz, eu poderia sugerir que Machado de Assis segue tão atual quanto em seu longínquo século XIX. Portanto, não se deve subestimar este trabalho que, embora pareça menos sofisticado, aborda temas fundamentais como preconceito e cobiça.

Faço menção aqui ao conto “O Relógio de Ouro”, sobre um marido que encontra no quarto do casal, desconhecido relógio que coloca em sua mente dúvidas quanto a fidelidade da esposa. O final é deliciosamente revelador.

HISTÓRIAS DA MEIA-NOITE (o título também denota ironia) é uma obra que pode servir como porta de entrada para aqueles que desejam começar a ler Machado de Assis. São contos enriquecidos pelo característico charme do mestre, segmentados por narrativa ágil e sutil. Merecem a atenção do leitor brasileiro.

NOTA: 7,7

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