Já que o próprio mestre Machado de Assis sugere o lado
despretensioso de sua obra ao dizer que são “escritos
apenas ao correr da pena”, achei que caberia uma breve explanação sobre
este insigne HISTÓRIAS DA MEIA-NOITE,
visto que não costumo resenhar grandes clássicos.
Para se ler o mestre nos
tempos de hoje é preciso que seja levado em consideração dois aspectos: 1) Machado de Assis é um homem do seu
tempo, ou seja, reeditar a linguagem para tornar sua literatura mais acessível
certamente aviltaria a essência da linguagem, a qual eu considero fundamental. Adotar
o dialeto desusado como desculpa para não ler grandes autores do passado soa-me
como falta de gosto pelo esforço... Isso é preguiça mesmo! 2) nunca se deixe
enganar pelo teor muitas vezes indiferente adotado pelo autor (sua condução
narrativa, vez ou outra, dá-nos a impressão de que o texto não quer chegar a
lugar algum). Sempre há por trás da literatura Machadiana uma premissa irônica e sagaz, que descortina a
problemática social daquela época.
Feitas as observações,
vamos falar do livro:
HISTÓRIAS
DA MEIA-NOITE é uma compilação de contos que foram
publicados originalmente num jornal que circulou no período de 1863 até 1878.
Os seis contos que aqui se encontram reunidos, naquele tempo eram destinados às
leitoras, público que ainda estava em ascensão.
Sob um olhar menos imersivo,
o livro pode soar meio raso, de contos sem grande relevância. Mas de um ponto
de vista mais analítico, a narrativa reunida nesta obra se revela um pouco mais
sutil, e apresenta o típico cenário social de um tempo em que vaidade e
ganancia pairavam constantes nos costumes, principalmente da famigerada
burguesia (ué, mas será que mudou alguma coisa atualmente?).
Caso seja assertivo este
último parêntese que fiz, eu poderia sugerir que Machado de Assis segue tão atual quanto em seu longínquo século
XIX. Portanto, não se deve subestimar este trabalho que, embora pareça menos
sofisticado, aborda temas fundamentais como preconceito e cobiça.
Faço menção aqui ao conto “O
Relógio de Ouro”, sobre um marido que encontra no quarto do casal, desconhecido
relógio que coloca em sua mente dúvidas quanto a fidelidade da esposa. O final
é deliciosamente revelador.
NOTA: 7,7
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