Apesar de ser um homem que
respira literatura, não foi através de um livro que conheci o escritor José Castello. Eu estava em casa
assistindo a uma das muitas palestras que tanto aprecio sobre Clarice
Lispector, ao reparar numa delas, um simplório senhor, com pernas cruzadas e
olhar atento, que fazia comentários pertinentes e nos momentos certos, sinal inequívoco
de lucidez. Era um dos mediadores. Dias depois voltei a ver o nome daquele
senhor estampado na capa de um livro que encontrei por acaso num Sebo (é sempre
por acaso que descubro boa literatura). Então, associei as possibilidades: um
sujeito simpático, consciente e culto; uma seleção de crônicas de sua
autoria... Deve se tratar de coisa boa.
Mas de que modo poderia eu
resenhar o resenhista? Se após me deleitar com textos amplamente analíticos e
charmosos, minhas palavras certamente sofrerão o inevitável efeito da
comparação e, por consequência, a constatação de que sou um insípido leitor que
se utiliza deste espaço de maneira irresponsável, afinal, falta-me o olhar aguçado
e a sutileza crítica de um experiente exegeta como José Castello.
SÁBADOS
INQUIETOS é uma coletânea das cem melhores crônicas de Castello,
publicadas entre janeiro de 2007 e março de 2012 no jornal O Globo, aos
sábados. E embora prefira se autodenominar como apenas um leitor comum, é
evidente, já nos primeiros parágrafos de leitura, que estamos diante de um
narrador sofisticado, analítico, mas ao mesmo tempo sensível; alguém que de fato
esmiuçou cada obra examinada.
As crônicas são gostosas,
cheias de referências do universo literário, recheadas de belas citações e
aforismos de autores. Muitas vezes nos deparamos com elementos da vida do escritor
alvo, curiosidades sobre sua vida ou sua obra, uma passagem interessante
daquele livro criticado. Ou seja, José
Castello é um engajado estudioso da literatura, o que torna a leitura de
suas crônicas um exercício prazeroso. São textos indicativos que nos deixam com
vontade de ler as obras referenciadas. Eu mesmo anotei pelo menos meia dúzia de
obras que desconhecia, mas que minha vontade de ler fora despertada pela leitura
deste amplo catálogo.
Para os leitores que não
apreciam poesias, vale ressaltar que o autor é um confesso amante do gênero,
portanto, grande parte das citações e autores incutidos em SÁBADOS INQUIETOS é acerca de nomes da poesia, consagrados ou não.
Há diversos autores de prosa também, eu particularmente comungo da preferência
de Castello por Clarice Lispector, mas é evidente que os escritores de poesias
são amplamente mais citados nesta coletânea.
SÁBADOS INQUIETOS é um livro para se
ler devagar, para que não se deixe perder as muitas referências charmosas e
dicas preciosas. Vale muito como instrumento de pesquisa em diversidade
literária, mas não somente, o livro destila seu charme o tempo inteiro,
deixando um ar de leveza que distancia de outros trabalhos sistemáticos de
críticos que odeiam ser enxergados como deveriam ser: os mais apaixonados e
humildes leitores do universo dos livros.
NOTA: 7,7
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