Obviamente o internauta poderia expressar a seguinte questão: e quem este resenhista pensa que é, para se considerar definidor daquilo que é genial ou não? Em minha defesa eu preciso salientar que qualquer análise sobre qualquer coisa, carece da apreciação pessoal; a coragem de dizer o que se pensar de modo sincero e decoroso. Do contrário, uma crítica se tornaria meramente técnica, robótica. Aquele que se propõe a resenhar, seja por profissão ou lazer, precisa ter a hombridade de dissecar os aspectos do objeto analisado, para que o resultado final dessa empreitada seja o de informar sem ofender; relatar a experiência vivida sem humilhar ou depreciar o trabalho de ninguém... Sem isso, uma resenha serve meramente para ostentar erudição.
Considerei importante fazer
essa ressalva, porque concluí neste A FORTALEZA DOS VENCIDOS um livro que
só não foi brilhante por conta de um final imaterial e que, embora cabível pela
trama, desagradou-me por sua discrepância de teor narrativo... O livro me
perdeu nos instantes finais.
Aqui acompanhamos a história
de dois personagens emblemáticos: Marionália e Esmeraldino representam com
perfeição os dilemas sociais dos brasileiros de uma época conturbada, desde
suas influências, personalidades e até mesmo seus nomes. O autor insere
personagens tipicamente enraizados nos costumes desse povo, e tal inserção é comumente
encontrado nos clássicos da literatura.
Perante as intempéries da
vida, as duas personagens estabelecem um relacionamento conflituoso, cujo
desfecho se deu em vidas que seguiram por caminhos opostos. E longe um do outro,
Esmeraldino e Marionália nos contam, por meio de suas memórias, um pouco da
existência que os condicionou à um casamento malogrado.
O que mais me impressionou ao
longo de minha leitura, foi o modo visceral com que somos inseridos no universo
caótico de Marionália, e poético de Esmeraldino. Ambos são personagens
altamente interessantes de forma diferente: Marionália é escrachada, impetuosa
e agressiva. Esmeraldino é engajado, terno e nostálgico. Os dois foram
esculpidos sob a égide do erro e acerto, sofreram as agruras de uma sociedade
complexa e indiferente com seus inseridos. E a empatia aqui é tão grande, que
por todo o tempo conseguimos compreender a forma com que cada um deles age dentro
de seu universo. O mundo transmuda sempre, muitas vezes de modo trágico e
definitivo. Nei Leandro de Castro nos deixa o tempo todo muito perto dessa
metamorfose em seus personagens, isso retira do leitor o julgamento equivocado,
do mesmo modo em que nos faz pensar que poderíamos muito bem agirmos como
Marionália ou Esmeraldino.
A linguagem do livro é
deliciosa e fácil, por vários instantes nos deparamos com os trejeitos e
costumes regionais nordestinos. Incomodou alguns momentos em que a narrativa
não descansa, deixando algumas reflexões um pouco emboladas. Talvez faltasse alguns
parágrafos, daqueles que convidam o leitor a uma pausa necessária para que se
deixe fluir através do pensamento. Por se tratar de uma trama psicológica, acho
que seria interessante um cuidado maior com as mensagens imersivas, para que elas
não sequenciem de modo mesclado com partes meramente informais do texto.
Bom, e o final da trama, que como disse no início da resenha, foi meio que verificar uma queda drástica do meu encanto pela leitura. Deparamo-nos com as consequências da loucura de um dos personagens, então entramos numa espécie de tribunal místico. Não é possível relatar muito sobre o que acontece para não estragar a leitura de ninguém, mas o livro perdeu seu encanto por escolher um caminho, digamos, desconexo com o segmento apresentado até aquele ponto. Foi como se a conclusão houvesse sido escrita por outro autor.
A FORTALEZA DOS VENCIDOS é um livro agradável, bem escrito, de personagens cativantes e que representam a existência imprevisível do ser humano. Teve uma conclusão que não gostei, mas talvez agrade a outros leitores... Enfim, vale à pena conhecer mais esta obra de nossa literatura.
NOTA: 7,4
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