sábado, 16 de abril de 2022

RESENHA DE LIVRO – MARIO PRATA ENTREVISTA UNS BRASILEIROS

Mídias que enfocam seu conteúdo em entrevistar celebridades atuais costumam ser bem sucedidas, porque todos nós gostamos de saber um pouquinho sobre a vida alheia. Melhor ainda quando o entrevistado é alguém dos holofotes, a sensação predominante é de identificação (como quando o entrevistado se mostra um sujeito simples), ou também orgulho (quando o entrevistado nos revela sua luta dura para alcançar fama e prestígio). Mas e quando o entrevistado é uma celebridade do passado? Como seria se pudéssemos conjurar a alma dos famosos de outro tempo, para que pudessem contar o lado oculto de suas vidas? Reconhecermo-nos nos grandes nomes do passado, ou nos orgulhar de suas trajetórias aguerridas.

Foi essa a premissa que motivou o escritor e dramaturgo Mario Prata, a mergulhar profundamente nos registros históricos para exorcizar nestas páginas, as mais importantes personalidades do nosso passado. Mario deu voz aos emudecidos pela finitude, e os fez contar o indizível, fazendo-se valer de sua condição de seres que não mais pertencem a esfera terrestre e, portanto, poderem dizer o que jamais diriam se estivem ainda sob o foco alheio. E claro: tudo só poderia ser feito de modo cômico, marca registrada de Mario Prata.

Os entrevistados aqui variam entre nomes altamente conhecidos como Pedro Álvares Cabral, Dom João VI, Tiradentes, Castro Alves, Rui Barbosa, passando por outros de menor destaque histórico: Içá-Mirim, Bispo Sardinha, Dona Beja... E é aqui que surge um pequeno problema no livro.

A obra começa sua maratona de 22 entrevistas com o navegador Cabral. Ok, isso pode ter sido proposital, afinal, o escopo era entrevistar personagens que estiveram envolvidos na história do Brasil, e Cabral foi o primeiro “star” que pintou por aqui. E o bate papo não foi lá essas coisas, sucedido então por alguns ilustres desconhecidos: Içá-Mirim, Padre Anchieta, Bispo Sardinha, Arariboia e Calabar. Nomes que fazem pouco sentido na compreensão do senso comum; e como a maior parte dos brasileiros não reconhece essas figuras, as referências e indiretas que dariam a tonalidade jocosa, acaba não funcionando. Portanto, essas entrevistas soam meio enfadonhas, pois as piadas fazem pouco sentido para leitores mais leigos. Obviamente a premissa do livro não é apresentar a biografia dos personagens, contudo a desconexão com algumas figuras quase nos faz abandonar o livro.

Por outro lado, a leitura ganha em vitalidade quando nos deparamos com personalidades que nos são mais familiares: Dona Maria I, Tiradentes, Dom João VI, Marquesa de Santos, Charles Miller. Sim, pois agora sabemos, mesmos que minimamente, quem são essas pessoas que nomeiam ruas, avenidas e praças Brasil afora. Desse modo, as piadas inseridas no texto passam a fazer sentido, o livro enriquece enormemente.

É claro que isso é um problema social e não da obra, propriamente. Afinal, desconhecer aspectos da nossa história é uma chaga difícil de ser vencida, mesmo para um brasileiro que tem certa familiaridade com a literatura, como no meu caso. O que dizer então do brasileiro médio, que lê muito pouco e foi ensinado a desdenhar a história do nosso povo?

De qualquer forma MARIO PRATA ENTREVISTA UNS BRASILEIROS é um livro delicioso, que evolui ao longo da leitura, dotado de uma mescla de referências históricas e a genialidade burlesca de seu autor, é um livro que serve como válvula de escape, entretenimento de primeira..., e esta edição da editora Record ainda traz uma estética bem legal.

Recomendadíssimo!

NOTA: 8,9

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