Mídias que enfocam seu conteúdo em entrevistar celebridades atuais costumam ser bem sucedidas, porque todos nós gostamos de saber um pouquinho sobre a vida alheia. Melhor ainda quando o entrevistado é alguém dos holofotes, a sensação predominante é de identificação (como quando o entrevistado se mostra um sujeito simples), ou também orgulho (quando o entrevistado nos revela sua luta dura para alcançar fama e prestígio). Mas e quando o entrevistado é uma celebridade do passado? Como seria se pudéssemos conjurar a alma dos famosos de outro tempo, para que pudessem contar o lado oculto de suas vidas? Reconhecermo-nos nos grandes nomes do passado, ou nos orgulhar de suas trajetórias aguerridas.
Foi essa a premissa que
motivou o escritor e dramaturgo Mario Prata, a mergulhar profundamente
nos registros históricos para exorcizar nestas páginas, as mais importantes personalidades
do nosso passado. Mario deu voz aos emudecidos pela finitude, e os fez contar o
indizível, fazendo-se valer de sua condição de seres que não mais pertencem a
esfera terrestre e, portanto, poderem dizer o que jamais diriam se estivem
ainda sob o foco alheio. E claro: tudo só poderia ser feito de modo cômico,
marca registrada de Mario Prata.
Os entrevistados aqui variam
entre nomes altamente conhecidos como Pedro Álvares Cabral, Dom João VI,
Tiradentes, Castro Alves, Rui Barbosa, passando por outros de menor destaque
histórico: Içá-Mirim, Bispo Sardinha, Dona Beja... E é aqui que surge um pequeno
problema no livro.
A obra começa sua maratona de
22 entrevistas com o navegador Cabral. Ok, isso pode ter sido proposital,
afinal, o escopo era entrevistar personagens que estiveram envolvidos na
história do Brasil, e Cabral foi o primeiro “star” que pintou por aqui.
E o bate papo não foi lá essas coisas, sucedido então por alguns ilustres
desconhecidos: Içá-Mirim, Padre Anchieta, Bispo Sardinha, Arariboia e Calabar.
Nomes que fazem pouco sentido na compreensão do senso comum; e como a maior
parte dos brasileiros não reconhece essas figuras, as referências e indiretas
que dariam a tonalidade jocosa, acaba não funcionando. Portanto, essas
entrevistas soam meio enfadonhas, pois as piadas fazem pouco sentido para
leitores mais leigos. Obviamente a premissa do livro não é apresentar a
biografia dos personagens, contudo a desconexão com algumas figuras quase nos
faz abandonar o livro.
Por outro lado, a leitura
ganha em vitalidade quando nos deparamos com personalidades que nos são mais
familiares: Dona Maria I, Tiradentes, Dom João VI, Marquesa de Santos, Charles
Miller. Sim, pois agora sabemos, mesmos que minimamente, quem são essas pessoas
que nomeiam ruas, avenidas e praças Brasil afora. Desse modo, as piadas
inseridas no texto passam a fazer sentido, o livro enriquece enormemente.
É claro que isso é um problema
social e não da obra, propriamente. Afinal, desconhecer aspectos da nossa
história é uma chaga difícil de ser vencida, mesmo para um brasileiro que tem
certa familiaridade com a literatura, como no meu caso. O que dizer então do
brasileiro médio, que lê muito pouco e foi ensinado a desdenhar a história do
nosso povo?
De qualquer forma MARIO
PRATA ENTREVISTA UNS BRASILEIROS é um livro delicioso, que evolui ao longo
da leitura, dotado de uma mescla de referências históricas e a genialidade
burlesca de seu autor, é um livro que serve como válvula de escape,
entretenimento de primeira..., e esta edição da editora Record ainda traz uma
estética bem legal.
Recomendadíssimo!
NOTA: 8,9
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