Se o Brasil fosse a centralidade geopolítica do mundo, provavelmente as prateleiras das livrarias pelos arredores do globo estariam infestadas de obras no estilo deste INFORMAÇÕES SOBRE A VÍTIMA; um trabalho desapegado de estereótipos do gênero intestigativo, cuja personagem narrador é um sujeito tão cheio de imprecisões, a pontos de nos fazer pensar no quanto esse cara não tem nenhuma familiaridade com o ofício da investigação policial.
Joaquim Nogueira, o
autor dessa obra singular, é delegado aposentado. Ou seja, detentor de ponto de
vista, digamos, menos enviesado sobre o universo da investigação, em
particular daqui do Brasil, o que é bom porque sua experiência certamente
contribuiu para deixar a obra um pouco mais crível.
INFORMAÇÕES SOBRE A VÍTIMA conta
a história de Venício, policial que é tomado por um irrefreável desejo de
justiça, após saber do assassinato de um amigo de profissão. Ele se prontifica,
procura seus superiores e insiste em receber a responsabilidade pela
investigação do caso. Então parte, no escuro, meio sem saber aonde ir, conversando
com diferentes figuras do cenário paulistano da década de 80.
Com uma sinopse dessa,
poderíamos imaginar um livro infestado de intrigas, suspeitos, direções
incertas, suspense, reviravoltas, o típico recheio investigativo com o qual
estamos habituados..., mas não é o que ocorre aqui. Definitivamente não estamos
lendo um livro de Agatha Christie.
O Autor nos conduz por uma
narrativa moderada, quase insípida, que vagarosamente vai nos mostrando os
cenários cotidianos de um investigador de polícia, algo nada glamoroso e,
muitas vezes, até enfadonho face as incertezas e repetições de atos e pessoas.
Mas creio que seja este o elemento forte do universo análogo criado por Joaquim
Nogueira.
Como mencionei no início,
livros de romance policial costumam ser recheados de maneirismos, uma espécie de
roupagem obrigatória, as quais estamos tão acostumados que ao nos depararmos
com um livro como INFORMAÇÕES SOBRE A VÍTIMA, imediatamente desperta o
estranhamento na mente do leitor, tamanho é o nível de verossimilhança com o
que há de mais banal em qualquer profissão imaginável, mesmo sendo ela
aparentemente estimulante, como a literatura predominante nos faz crer que seja
a de um investigador de polícia.
Venício não é o profissional extraordinário,
nem chega a ser sedutor..., na verdade, nosso personagem é um sujeito discreto,
quase rudimentar. Chama pra si a responsabilidade pela investigação de um crime
e sequer sabe por onde começar, tudo motivado por uma amizade de pouquíssimo
tempo que estabeleceu com a vítima.
Mas ao mesmo tempo ele é
obstinado e irredutível. O tipo que não larga o osso quando cisma com alguma
coisa. E entra de cabeça num cenário cheio de pessoas igualmente parecidas com
ele mesmo: todo o tipo de gente que, apesar de suas contradições, são suspeitos
tão descaracterizados quanto ele próprio. E apesar de soar como um problema, eu
considerei este o ponto alto da trama. É legal conhecer os bastidores do
submundo do crime como ele realmente parece ser; aqui não há personagens
surpreendentes; o que há são pessoas vivendo suas vidas em meio a transgressões
e inconstâncias... O mundo como ele realmente é.
É pertinente que seja feita essa observação porque há leitores que podem ser pegos desprevenidos. Joaquim Nogueira não escreve como Harlan Coben, cujas tramas causam estupefação à cada página virada. Mas este ilustre escritor brasuca nos entrega um romance com o estilo impreciso e cheio de complicações, como deve ser o mundo dos investigadores inseridos num país extravagante como o nosso Brasil, lugar onde certamente James Bond, mesmo com todo aquele seu charme e aparato tecnológico, não saberia exatamente o que fazer ou por onde começar.
NOTA: 7,5
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