Que seja explicitado: aprendi a gostar da literatura de Irvin D. Yalom lendo seus trabalhos menos expressivos; posso até salientar que pouco interesse tinha por esta que é sua obra mais notória, não por envolver um filósofo que aprecio, mas pela consciência dessa fascinação exacerbada ao redor da trama à ponto de alguns educadores oferecerem a obra para compreensão de Friedrich Nietzsche, sugerindo que o conteúdo fosse além de sua pretensão como literatura de entretenimento.
Manifesto que isso é um
preconceito de minha parte, pois evitar aquilo que nunca se leu, apesar de se conhecer
o autor, é julgar sem antes ter experienciado. Portanto, o livro veio parar em
minha estante por acaso, quando o encontrei em promoção durante uma de minhas
garimpagens num Sebo.
Outro problema pode estar
precisamente na expectativa que criei sobre o autor, o que é meio que um
paradoxo perante minha desconfiança, afinal, sei muito bem do potencial de Yalom
com sua narrativa que mescla elementos filosóficos, psicológicos e introduz embates
instigantes em suas personagens, algo admirável. Ou seja, ao mesmo tempo em que
me recusava a ler este livro, também sustentava a confiança de que estava
levando para casa outra boa leitura.
Contudo, a desconfiança
se fez assertiva, QUANDO NIETZSCHE CHOROU é o livro mais fraquinho que
li do autor e, apesar de não ser propriamente um trabalho ruim, considerei-o o
menos envolvente dos lidos até hoje na bibliografia de Yalom, e o restante
dessa resenha é uma tentativa de expor os elementos que embasam essa opinião.
Quando o famoso médico judeu
Josef Breuer recebe a visita de Lou Salomé, uma sedutora mulher russa, o médico
é intimado a ajudar a cuidar da delicada saúde de um amigo importante de Lou,
um até então pouco expressivo intelectual chamado Friedrich Nietzsche. A mulher
faz uma recomendação para que o Dr. Breuer mantenha o pedido em segredo, dada a
natureza orgulhosa do paciente. Ou seja, para ajudar Nietzsche, o médico
precisará ir ao encontro do filósofo e ajudá-lo sem que o outro perceba essa
intenção... Temos o nosso enredo.
À priori, a premissa parece
meio descabida ou sem sentido, mas isso não chega a incomodar, pode-se relevar
facilmente essa condição narrativa para o encontro entre os dois principais
personagens da trama, dr. Breuer e Nietzsche. No entanto, creio que conjunturas
mais pertinentes poderiam ser introduzidas nas personagens.
Quanto ao aspecto que mais me
incomodou na leitura ocorre desde o instante em que o filósofo cujo nome
intitula a obra aparece e perdura por todo o texto: uma exacerbada reverência
sobre a figura de Nietzsche ocorre já nos primeiros parágrafos em que ele surge
na narrativa. E embora isso talvez fosse apenas uma bajulação introdutória,
cujo intento seja enaltecer a figura de Nietzsche, tal condição não decresce,
chegando a tornar alguns instantes intragáveis. Primeiro que por tudo o que
Nietzsche representa para a filosofia, sua imagem não carece desse tipo de
servilismo. E em segundo lugar, esse preciosismo escancarado interfere na
maneira com que o enxergamos, tornando-o algo extraordinário demais e,
portanto, menos crível.
Vale ainda mencionar para os
leitores que ainda não conhecem a obra de Irvim D. Yalom, que em seus
textos não há espaço para elementos como suspense, reviravoltas, impactos
emocionantes ou agilidade linguística. A literatura desse autor segue sempre
uma pegada invariável, cujo ápice fica nos diálogos cheios de elementos
psicanalíticos e filosóficos que são estabelecidos entre suas personagens. E dentro
desse aspecto há instantes bons aqui, o livro enriquece muito quando o autor
deixa de se concentrar na idolatria à Nietzsche, para fazer o que faz melhor: narrar
os enfrentamentos existenciais de suas personagens.
QUANDO NIETZSCHE CHOROU é um best-seller que merecidamente tem seu lugar de destaque no universo literário, porém, deixa-se seduzir demais pela personagem central da trama. Reconheço-me como parte da minoria que não considerou a trama tão grandiosa assim, mas sou consciente da existência dos bons elementos narrativos que fizeram de Yalom este consagrado escritor.
NOTA: 6,7
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