A história sempre foi fonte
inesgotável de inspiração para escritores. Alguns autores de romances
históricos sabem construir obras com enorme eficiência, tornando-as quase um
relato verídico ou simplesmente fazendo com que o leitor mergulhe naquele determinado
universo. Trata-se de um gênero que, articulado para revisitar o passado ou
trazer um olhar meticuloso e possível de suas lacunas, faz com que nasça
narrativas sensacionais e inesquecíveis. O passado da humanidade é tão
diversificado, rico e intrigante, que é difícil compreender quando um autor
erra a mão ao fazer uso de fontes históricas.
ENQUANTO O DITADOR DORMIA, do
escritor português Domingos do Amaral, tem o país de Portugal como cenário
central durante os anos da Segunda Guerra Mundial, em toda sua postura de
neutralidade no conflito (muitas aspas aqui). Construído por meio da linguagem
e estruturando-se em relações temporais e espaciais, a trama se passa na Lisboa
do início da década de 40, a cidade parecia sustentar posição privilegiada,
lugar de fuga e migração de diversas nacionalidades europeias, tudo acontecendo
“enquanto o ditador Salazar dormia”, Portugal foi uma das principais rotas de
fuga para a América.
A história é narrada em
primeira pessoa, deparamo-nos com as memórias de um ex-espião britânico, 50
anos após os acontecimentos, quando já em idade avançada retorna a Lisboa para
o casamento de um neto. O reencontro com a cidade suscita memórias daquele tempo
efervescente, onde a cidade havia se transformado numa verdadeira capital
cosmopolita do continente em guerra.
Domingos do Amaral
contextualiza sua trama de forma eficiente, tenta manter-se fiel aos eventos,
descreve fatos marcantes, menciona datas, lugares, feitos cruciais e
personalidades envolvidas no conflito. Sem a necessidade do olhar jornalístico,
o autor possui liberdade para enaltecer Portugal, mostrando que o país esteve
na condição de cenário charmoso daquele período, onde intrigas aconteciam em
suas profundezas, enquanto o tentava conduzir uma postura de neutralidade e
proximidade com ambos os lados do conflito.
O livro possui uma leitura
ágil e charmosa, os diálogos entre as personagens são deliciosos de serem
lidos, principalmente quando o protagonista Jack Gil encarna o 007, alternando
instantes de aventuras de espionagem com flertes em mulheres deslumbrantes.
Apesar do período histórico e
de sustentar um título que faz referência ao líder português, a obra se mantém
imparcial, não critica nem concorda com Salazar, o que pode ser considerado um
acerto, pois não se trata de conteúdo político, mas de um romance. O leitor que
possui pouca familiaridade com eventos e personagens da segunda guerra poderá
se incomodar com algumas referências, mas nada que chegue a interferir na
compreensão da leitura.
ENQUANTO O DITADOR DORMIA é um romance histórico que nos traz conjecturas interessantes de um cenário que recebeu pouca atenção durante o tempo da segunda grande guerra. Uma narrativa fluida, cheia de referências assertivas e mistura de personagens reais e fictícios..., como o próprio autor definiu em entrevista: trata-se uma ficção criada por um apaixonado pela história daquele período.
NOTA: 7,8
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