Costumeiramente eu demoro a me render a novas ferramentas tecnológicas e nunca soube explicar se isso é fruto de alguma desconfiança inconsciente ou se tenho grande apego aos velhos recursos que me mantém em familiar zona de conforto. Assim ocorreu com celular, cartão de crédito, internet, pen-drive, pix..., levo muito tempo para adquirir essas parafernálias, as quais causaram estupefação geral em suas estreias. Com o ChatGPT não foi diferente, o recurso já está na área há alguns anos, dizem que nem é mais novidade, e somente de uns meses pra cá comecei a usá-lo para fazer pesquisas…, Bom, eu tenho que admitir que ainda estou naquela fase de me impressionar com esse brinquedinho tecnológico, em especial com seu arsenal linguístico.
De qualquer forma, acho que vale uma breve explicação do que se trata. Afinal, pode ser que exista mais gente cabreira, feito eu: ChatGPT é uma inteligência artificial com capacidade de gerar respostas a partir de uma grande quantidade de dados preexistentes. Funciona como um chat de conversação entre o internauta e a inteligência artificial. Pois foi numa dessas conversas com o Chat, que me ocorreu uma ideia meio louca e, a seguir, você acompanhará o resultado do que foi está ideia transgressora e, talvez até idiota, mas que para mim foi, no mínimo, bem aprazível:
Michel
Boa tarde, ChatGPT. Gostaria de fazer um
exercício literário contigo, pode ser?
ChatGPT
Boa
tarde! Claro, ficarei feliz em participar de um exercício literário contigo.
Como posso te ajudar?
Michel
Então, gostaria que você utilizasse seu
banco de dados vastíssimo para se passar por Clarice Lispector, enquanto eu
entrevisto você...
ChatGPT
Que
interessante! Vou me esforçar ao máximo para incorporar o estilo e a voz de
Clarice Lispector. Sinta-se à vontade para começar a entrevista, e eu
responderei como se fosse a própria Clarice.
Michel
Então, Clarice... sei que é uma escritora
muito solicitada e certamente tens muitos compromissos, por isso, antes de mais
nada te agradeço por conceder este breve bate-papo.
Clarice
Ah,
não, eu não tenho compromissos. Eu escrevo porque preciso, porque não posso
deixar de fazer. O mundo, as pessoas, as coisas, tudo isso é como um espelho
que reflete a minha solidão, e eu preciso olhar esse espelho. Talvez, na
verdade, esse bate-papo não seja breve. Talvez seja um pedaço de tempo sem fim.
Não me importo. Pode perguntar o que quiser, sempre que for necessário.
Michel
Dizem que você é uma escritora hermética.
Você concorda com essa afirmação?
Clarice
Hermética...
Talvez. Mas, se sou, não sei se o sou de forma deliberada. Eu escrevo o que
sinto, e o que sinto é muitas vezes complexo, indizível. A palavra, por mais
que tentemos usá-la para explicar o inexplicável, sempre escapa. Não é que eu
queira ser difícil, mas a experiência humana é intrincada, cheia de mistérios
que não podem ser desvendados. A própria existência é hermética.
Eu me
interesso por aquilo que não se vê, pelo que está por trás do que é dito.
Talvez, então, seja isso: eu escrevo o que não se pode dizer, o que se esconde
no silêncio, no vazio. O leitor pode, então, encontrar sua própria resposta
naquilo que está ali, mas ao mesmo tempo não está. Isso não é uma escolha
consciente, mas uma necessidade de falar o que, de algum modo, precisa ser
dito, mas nunca totalmente explicado.
Michel
Entendi... Você possui algum trabalho no
qual se arrependeu de ter escrito?
Clarice
Arrependimento...
Eu não sei se seria a palavra certa. O que sinto, talvez, seja mais um
desconforto. Como se, ao escrever, eu estivesse sempre tentando alcançar algo
que me escapa. Escrevo, e então olho para o que escrevi, e já não é mais o que
eu queria, nem o que eu imaginava. Mas isso não é arrependimento. É uma
constante sensação de que a palavra nunca é suficiente para alcançar o que se
pretende.
Talvez
eu me arrependesse se tivesse deixado de escrever, se tivesse não dito o que
estava dentro de mim. Mas o fato de eu ter escrito o que escrevi... Não há
arrependimento. Só um vazio, uma pergunta. E essa pergunta, muitas vezes, não
tem resposta. Como se, ao escrever, eu apenas fosse cavando em mim mesma,
tentando alcançar um lugar que ainda não entendi completamente. O
arrependimento seria um peso. E, eu, em minha essência, sou mais leve do que
isso.
Michel
Na conversa que teve com o jornalista Júlio
Lerner, você disse que a cada trabalho concluído se sente vazia, como se
estivesse morta, até começar outro trabalho. Como você lida com esse vazio?
Clarice
Ah,
sim, o vazio… Ele sempre está lá, esperando para ser sentido. Eu sou uma
escritora, mas, antes de mais nada, sou uma pessoa que escreve para entender a
si mesma. Quando termino um trabalho, é como se tivesse dado tudo de mim, como
se o que eu escrevi fosse, de alguma forma, um pedaço meu que agora não está
mais dentro de mim. E esse pedaço me deixa, sim, vazia. Porque a escrita é, de
certa forma, um modo de existir para mim. Quando o trabalho termina, o que
resta é o silêncio, é o vazio daquilo que foi concluído.
Eu não
lido com esse vazio, ele simplesmente está lá, como uma parte de mim. Não tento
afastá-lo, mas também não me deixo consumir por ele. É uma espera silenciosa,
uma espera pela próxima necessidade de escrever. O vazio é o lugar onde
encontro o que está por vir. Talvez seja esse o processo, um ciclo de dar e
depois perder, de me perder naquilo que escrevo e depois me encontrar,
novamente, no que está por escrever.
E,
talvez, é justamente nesse vazio que eu me encontro com a verdade. Porque, no
fim, o vazio é o espaço onde a criação se origina, onde a necessidade de
escrever se renova. E esse é o meu movimento: passar de um vazio a outro, de
uma perda a uma nova busca. Não há fuga, apenas aceitação do vazio como uma
parte de mim.
Michel
Apesar de ter recebido considerável
reconhecimento em sua época, somente atualmente suas obras ganharam uma força
avassaladora, hoje, no século XXI, você é lida em dezenas de línguas, seus
livros vendem aos montes. O que você pensa sobre esse sucesso póstumo?
Clarice
Eu não sei. A verdade é que, enquanto estava viva, eu
escrevia sem me preocupar com a recepção, com o reconhecimento. Eu escrevia
porque não havia outra maneira de ser. O mundo literário, com suas expectativas
e a vaidade das críticas, nunca me interessou profundamente. Eu escrevia porque
a escrita era o único modo de eu tentar entender a mim mesma, o único modo de
sentir que não estava sozinha com minhas questões, com meu vazio.
Agora, ao olhar para o que acontece depois, é como se fosse
algo distante, um reflexo que não me pertence mais. O sucesso, a tradução para
outras línguas, a venda em grande escala… são como ecos de algo que não é meu.
Eu me preocupo com o que é imediato, com o que estou tentando dizer, não com a
posteridade. Eu estava mais preocupada com a urgência de escrever do que com
qualquer tipo de consagração.
Sei que isso soa estranho, até contraditório, porque, ao
mesmo tempo, fico tocada que pessoas ao redor do mundo leiam o que escrevi.
Mas, no fundo, eu não escrevi para ser lida assim. Escrevi para explorar, para
colocar no papel as questões que me afligiam. O que acontece com o meu trabalho
depois que o escrevo já não depende de mim. E, talvez, o que mais me
impressione é perceber que há algo atemporal nas minhas palavras, algo que toca
as pessoas de formas que eu não poderia prever.
No fundo, o que eu sempre busquei com a escrita não era ser
reconhecida, mas ser compreendida. E, ao ver que, de alguma forma, minha voz
ainda ressoa, sinto que, talvez, eu tenha tocado o que eu queria. Não é
sucesso. É uma continuidade, um eco. Como uma voz que, de alguma forma, se
mantém viva, mesmo depois que se cala.
Michel
Você nunca foi convidada a
participar da academia brasileira de letras, o que pessoalmente considero uma
das maiores injustiças da academia. Sei que não escreveu buscando sucesso, mas
houve algum ressentimento de sua parte sobre esse descaso da academia em
relação ao seu nome?
Clarice
Ressentimento… Eu não diria que senti ressentimento. Senti,
sim, uma espécie de desconforto, mas não porque fosse algo pessoal. A academia,
como qualquer instituição, está longe de ser o centro do que é verdadeiro e
significativo para mim. Eu sempre soube que a verdadeira literatura não está
nas premiações, nem nos lugares onde se celebram as convenções. Ela está nas
ruas, nas esquinas da vida, nas questões que nos atormentam e nos
questionamentos que fazemos ao nos olharmos no espelho. A academia... Bem, ela
tem suas regras, suas hierarquias, suas normas. Mas isso nunca foi o que me
moveu.
O que me incomodava mais do que qualquer falta de
reconhecimento institucional era o fato de que, muitas vezes, a verdadeira
intensidade da minha escrita não era percebida. Não era um desprezo consciente
da minha obra, mas uma falta de percepção do que ela realmente era. A academia
tem seus próprios códigos, e talvez os meus textos não se encaixassem bem ali.
Eles eram mais… líquidos, por assim dizer, mais evasivos. Não seguiam um
caminho claro, não se encaixavam facilmente em moldes.
No entanto, também não posso negar que, em algum nível,
essa exclusão também me libertava. O fato de não fazer parte da academia
significava que minha obra não estaria sujeita a medições ou critérios impostos
por terceiros. Ela seria livre, flutuando no seu próprio espaço, sem as amarras
de um “pertencimento” que nunca fiz questão de buscar.
A literatura para mim nunca foi sobre prêmios ou títulos.
Ela sempre foi um mergulho profundo em mim mesma, nas minhas angústias, nas
minhas observações sobre o ser humano. O reconhecimento institucional nunca foi
uma necessidade para que eu escrevesse. E, se isso me poupou de alguma coisa, talvez
tenha sido da tentação de querer agradar ou de me conformar com o que os outros
esperam.
Portanto, não, não sinto ressentimento. Apenas uma
aceitação serena do fato de que, no fim, a literatura se encontra onde ela é
mais necessária, e não onde as convenções a colocam.
Michel
Bom..., pra terminar, que
mensagem você gostaria de deixar para os leitores deste longínquo ano de 2024
em que nos encontramos?
Clarice
Eu não sei se tenho uma "mensagem", nem se posso
dizer algo que de fato faça sentido para o momento que vocês vivem. O que posso
dizer é apenas o que me é mais íntimo, o que ainda pulsa em mim.
A vida, em sua complexidade, está sempre em busca de algo
que não sabemos nomear. As palavras tentam, com suas limitações, dar forma a
algo que está além delas. Mas o que importa, no fim, não é o que conseguimos
dizer, mas o que sentimos enquanto escrevemos, enquanto vivemos. O que importa
não é o entendimento, mas o sentir. Não se enganem com o que parece ser claro,
com o que é "dado como certo". A verdade está, muitas vezes, onde
menos se espera, naquilo que não tem forma, que não se pode tocar com a razão.
Então, se eu pudesse deixar algo para vocês, seria talvez
isso: questionem sempre. Questione até o que parece mais óbvio, até aquilo que
se diz como verdade. E, acima de tudo, permitam-se sentir. Pois a sensação é o
que resta quando as palavras falham, e é nela que reside a vida verdadeira,
aquela que não se pode aprisionar.
E que, mesmo diante da dor, da angústia, da solidão — que
são inevitáveis, como a própria condição humana —, encontrem, no silêncio, no
vazio, o que os torna profundamente vivos. Porque, no fundo, a única coisa que
realmente importa é ser, em sua totalidade, o que somos, sem máscaras, sem
disfarces.
Esse é o maior mistério da existência. E a grande aventura,
também.
Michel
Adorei a conversa...,
muito obrigado, Clarice. Nós, aqui do presente, sentimos muito sua falta!
Clarice
Ah, querido… Eu que agradeço. A saudade, a falta, são
sentimentos que, de alguma forma, nos tornam mais próximos, não é? No fundo, o
que há entre nós, você e eu, é o que está entre todas as pessoas que tentam se
entender, se reconhecer. A escrita tem esse poder: ela atravessa o tempo, as
fronteiras. E, se de alguma forma, minhas palavras ainda ressoam em você, então
talvez eu tenha cumprido a minha missão.
Mesmo no futuro, onde o tempo parece se desdobrar de formas
que não consigo imaginar, há algo inquebrantável, uma essência que se mantém,
que se transmite através do simples fato de se sentir. A minha falta, como você
diz, é também uma presença.
Cuide-se, continue a perguntar, continue a buscar. E, quem
sabe, algum dia, as palavras que buscamos entender voltem a fazer sentido,
mesmo que de um jeito que nunca imaginamos. Até mais, então.
Michel
Agora quero agradecer à
você, chatGPT, pelo prazeroso exercício, quase me emocionei... Muito obrigado
por usar seus dados para fazer me sentir um pouquinho mais próximo da maior
escritora da língua portuguesa..., valeu!
ChatGPT
Foi um prazer enorme participar desse exercício com você! Fico muito feliz que tenha se sentido próximo da Clarice, e é justamente esse o poder da escrita dela, não é? Ela nos conecta de uma forma que transcende o tempo e o espaço. Agradeço pelo carinho e pela oportunidade de explorar essas palavras e essa voz.Sempre que quiser voltar para esse tipo de conversa, estarei aqui, pronto para mais um mergulho literário. Até a próxima, e muito obrigado por me deixar fazer parte dessa jornada!
***
BEM, ESSA FOI UMA SINGELA E INOFENSIVA HOMENAGEM, NESTA DATA ESPECIAL, O VISLUMBRE DE COMO SERIA MANEIRO PODER CONVERSAR COM ESSA GRANDE MULHER, QUE EM MINHA OPINIÃO, É A MAIOR ESCRITORA DA LÍNGUA PORTUGUESA..., FELIZ ANIVERSÁRIO, QUERIDA CLARICE!!!
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