O erotismo que me agrada na literatura contemporânea, não é aquele que se impõe de fora para dentro, como acontece costumeiramente na literatura erótica tradicional (geralmente escrita sob o olhar masculino). O melhor do erotismo, em minha opinião, é aquele que nasce da interioridade feminina, que é vivenciado de forma a constituir as mulheres como individualidades que anseiam e agem, não apenas figuras clichês passivas ou meros objetos de desejos.
Os contos que foram
organizados para compor esta compilação, são representantes desse cenário: o
erotismo aqui não é romântico no sentido tradicional, muitas vezes, se aproxima
de algo ambíguo, contraditório, uma mistura de prazer e vulnerabilidade, ternura
e impotência, desejo e silêncio. O olhar feminino estabelecido nas narrativas
presente em INTIMIDADES confere profundidade psicológica.
A organizadora por trás dessa
empreitada é Luisa Coelho, portuguesa que vive no Brasil desde 2002, professora
da Universidade de Brasília e autora de várias obras de ficção. Este compilado
de contos reúne autoras brasileiras e portuguesas, proporcionando uma
aproximação entre as duas culturas.
A obra reúne dez contos, explorando
o erotismo sob diferentes perspectivas, com linguagem que passeia pela sutileza
poética, realismo cru e intersubjetividade. O tema do erotismo aqui não é
gratuito, mas está profundamente ligado à intimidade emocional.
Como já mencionei, o ponto
forte está no protagonismo feminino. Livre de censura, culpa ou estigma, as
autoras destilam a sensualidade de suas protagonistas, combinando erotismo com introspecção
que não cai em clichês pornográficos, algo tão comum em literaturas eróticas
escritas por homens.
Além disso, uma compilação
como essa possui uma enorme relevância cultural, pois se inscreve numa posição
que busca romper o silêncio histórico em torno da sexualidade feminina. Ao
reunir autoras de dois países ligados por um trágico histórico colonial, a
antologia também traça um mapa afetivo e cultural do erotismo em língua
portuguesa, que ao meu ver, ainda foi pouco explorado sob a ótica feminina.
A curadoria de Luisa Coelho é atenta à diversidade; há contos com uma linguagem mais poética, outros são insinuantes, alguns dotados de realismo orgânico. Há experiências urbanas e íntimas, algumas são oníricas e simbólicas. Meus favoritos são Cobertor Engomado, de Branca Maria de Paula; Só Sexo, da sempre fabulosa Inês Pedrosa e Mónica, de Maria Teresa Horta.
INTIMIDADES é uma obra provocativa e, acima de tudo, um ensaio de liberdade. Quando uma mulher fala sobre seu corpo e seus desejos, como ocorre com as personagens dessa coletânea, ela não está apenas contando uma história, mas reivindicando sua existência e subvertendo silêncios históricos.
NOTA: 8,7

Nenhum comentário:
Postar um comentário