sexta-feira, 18 de novembro de 2011

PREVISIVELMENTE IRRACIONAL


Durante minha infância, sempre entendi os almoços de domingo em família como um verdadeiro tormento. Eu explico: é que minha mãe era o tipo de mulher que gostava de tomar um cuidado excessivo com as aparências sociais, sendo assim, era ela quem sempre fazia meu prato. E numa mesa enormemente farta, eu tinha que me contentar com um ou dois míseros pedacinhos de carne, enquanto ao meu redor, todos se esbaldavam. Somente uma única vez eu me atrevi a reclamar, e o resultado foi um interminável sermão por parte dela, cheio de ameaças. Acostumei-me tanto com esse hábito, que nos atuais dias, mesmo sem minha velha por perto, lá estou eu nos almoços de domingo, tentando manter a boa aparência pegando só um pedacinho. Quando o que eu realmente queria era pegar o bife maior. E não tem jeito. Hoje eu faço isso inconscientemente.
Este exemplo mostra um pouco do que este livro oferece: que todas as nossas decisões, mesmo aquelas que são milimetricamente calculadas, são contaminadas por sentimentos ou influências que quase nunca percebemos. E que acabam estragando o trabalho da razão.
O autor Dan Ariely, professor de economia comportamental da Universidade Duke e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos conta ao longo de 220 páginas que, sem perceber, deixamos de usar a razão frequentemente. Segundo ele, isso acontece porque nossas decisões são guiadas por fatores que passam despercebidos pelo cérebro quando estamos prestes á calcular o nosso próximo passo. Mesmo aqueles mais simples, como no meu caso, o de simplesmente pegar um pedaço maior de carne, conforme minha verdadeira vontade.
A notícia boa é que é possível estimular-nos á ver a realidade de uma forma distorcida, fazendo com que deixemos nossos olhos do hábito de lado, para usarmos os olhos da razão. Ariely nos dá um exemplo: segundo ele, sentimos que estamos sempre tomando decisões, mas, na verdade, estamos repetindo a mesma decisão várias vezes. E nem sempre pesamos os prós e os contras na hora de escolher. Apenas concluímos que, se já agimos assim antes, nossa decisão anterior deve ter sido a mais razoável. Se comprarmos um carro grande, é provável que continuemos comprando.
Previsivelmente Irracional é um ótimo livro, abordando um tema que envolve á todos nós... vale a pena.

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