quinta-feira, 12 de julho de 2012

CRÔNICA: DIA MUNDIAL DO ROCK


– Tô terminando de preparar um novo pedido agora. – disse a vendedora, com o olhar fixo na tela do laptop – você estava sumido, Michel.
– Pois é – respondi, enquanto vasculhava uma enorme fileira de camisas de rock, presas em cabides plásticos – Tive que fazer uma operação.
Em meio ás explicações pouco detalhadas á cerca de minha recente aventura cirúrgica, rolava, no interior da loja, um som ambiente de guitarra, de uma banda que não conheci em primeiro momento.
 – Mas, e quando chega esse seu novo pedido? – perguntei.
– Em uns dez dias.
– Vou aguardar então – já estava caminhando de encontro á saída da loja, quando uma súbita lembrança me fez fazer meia volta e retornar até o balcão onde estava a vendedora – por acaso você tem aquele DVD do show do Scorpions?
– Olha, não chegou nada de novo pra mim do Scorpions.
– Não. Eu não quero nada de novo mesmo. Estou procurando aquele show acústico, famoso do Scorpions, lembra?
– O acústica? – ela quer saber. Pela primeira vez, a vendedora havia desviado a atenção da tela em sua frente. Ela agora me olhava, com ar de curiosidade.
Balancei a cabeça, assentindo.
– Uai, Michel. Você ainda não conhece aquele DVD? – mesmo reagindo com certa desconfiança, ela foi até uma prateleira procurar pelo meu pedido.
– Não é pra mim.
– Ah, bom – disse ela, aparentemente aliviada com minha resposta. Como se fosse um pecado mortal comprar discos de clássicos populares.
– É para minha esposa – expliquei.
Enquanto ela fazia meu embrulho, eu pensei em tal situação. Estava há dias tentando encontrar um tema legal para desenvolver um texto bacana para postar no meu blog, em homenagem ao dia mundial do rock. E igualmente como mitologia grega, o rock é uma dimensão infinitamente ampla, portanto, minha mente vagava por entre Hendrix, Woodstock, Ozzy e Metallica... Mas não encontrava inspiração para escrever nada.
Absolutamente nada.
– Prontinho. – era a vendedora, com meu embrulho nas mãos – Sua esposa vai adorar.
E foi naquele exato momento, que consegui enxergar o óbvio, até então nebuloso aos meus olhos: O rock é um estranho sedutor, que chega sem precisar de convite. O rock é como uma garota mimada e egocêntrica, que quer toda sua atenção voltada para ela. E ele vai fazer qualquer coisa para hipnotiza-lo. Até que você se renda aos seus acordes psicodélicos.
Minha esposa havia se tornado uma verdadeira farejadora; mais uma escrava do preciosismo. Ela estava empenhada á meses em vasculhar meus CDs, MP3, DVDs... Enfim, todo o meu acervo de música e também a internet. E conforme ela descobria as maravilhas do mundo das guitarras, eu fazia meu papel de fornecer á ela, um pouco mais daquilo que ela havia descoberto em sua própria casa.
Atualmente ela anda amarradona: Scorpions, AC/DC, Rush, Hammerfall... E empenha-se árdua, e incansavelmente em sua constante busca por conhecer mais... cada vez mais. Quer comprar camisa; adquirir discos novos; bater cabeça ao som de Back in Black... Tudo parece novo para ela.
Essa é a verdadeira magia do Rock:
Aquele período em que ficamos entorpecidos porque descobrimos mais uma banda legal e não queremos desgrudar os ouvidos por nada;
Aquele momento precioso em que as melodias viscerais embalam as cabeças numa sincronia de cabelos esvoaçantes e perfeitas guitarras imaginárias;
 Aquele encontro com a geração 60, 70, 80 ou 90 que nos faz estarmos mais próximo daquilo que alguém um dia pensou se tratar da eternidade. Porque o Rock nos faz crer que, de fato, somos infinitos;
Aquele instante em que o refrão ecoa fortemente e nossa alma vêm pra fora, completamente desavergonhada, para gritar junto.
Aquele vício de quero mais. Como uma sede que jamais poderá ser saciada.
Foi então que eu me vi como ela: um mero descobridor do paraíso cênico e teatral dos arranjos e solos. Percebi que não era melhor ou mais evoluído. Não me vi como um dinossauro veterano. Nunca manjei rock mais do que ninguém, isso é bobagem...
Naquele momento, saindo da loja de artigos musicais, entendi que eu era apenas mais um aluno da escola de rock, exatamente como minha esposa havia se tornado. E que nossa faculdade será gratificantemente desenvolvida, até o fim de nossas vidas.
Viva o bom e eterno Rock n’ Roll!!!

2 comentários:

  1. E viva o Rock!!! E nessa sua fase de descobertas e redescobertas com sua esposa, não se esqueça de Bowie! Vale conferir os álbuns "Hunky Dory", "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", "Stage", mais recentemente o "Reality"... Aaaaah, todos!!! Hahahahahahaha...

    Adorei o texto, Michel!
    Temos que conversar sobre o lance da cirurgia... O que vc andou aprontando?
    Beijo, moço!

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    1. Ei, amiga Denise...
      Pois é, não te contei ainda porque vc anda sumida demais, rsrs. Fiz uma pequena cirurgia no tendao da aquiles esquerdo. Ja estou 90% recuperado.
      Quanto ao David Bowie, ta anotado a dica, meu anjo. Sempre em busca de aprendizagem, e obrigado por me ensinar...
      Beijao!! Sempre bom ter seu comentario em meus textos...

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