sábado, 4 de janeiro de 2014

RESENHA DE LIVRO – Felicidade Clandestina


Não sei se o meu maior pecado é ainda não ter nenhum livro de Clarice Lispector em minha modesta estante, ou se é o fato de eu ter levado tanto tempo para conhecer essa fantástica escritora, nascida na Republica Popular da Ucrânia, porém brasileiríssima (Clarice foi naturalizada; ela se declarava Pernambucana) para o nosso orgulho. Quando questionada sobre sua nacionalidade, ela costumava destilar a seguinte pérola: “Naquela terra eu literalmente jamais pisei; fui carregada no colo”. Declarava-se brasileira com altivez.

Como não poderia deixar de ser, no meio literário eu vivi vendo seu nome e ouvindo falar desta escritora, mas levei muitos anos para finalmente ler um livro de sua autoria. E enfim, minha remissão aconteceu com este delicioso “Felicidade Clandestina”, que nada mais é do que uma obra que reúne textos que podem ser classificados como “contos”, embora este não seja exatamente o termo abrangente, porque Felicidade Clandestina parece alternar seus gêneros; ás vezes nós nos pegamos lendo um conto, noutras encontramos algo mais próximo do que seria uma crônica (que são os meus preferidos).

O conteúdo da obra reúne vinte e cinco textos que tratam de temas diversos, alguns relatados de maneira corriqueira, como recordações da infância e juventude da autora (alguns textos são autobiográficos). Já outros trabalhos são um pouco mais complexos e ligados á questões da alma, pensamentos reflexivos e uma espécie de representação dos processos mentais de cada personagem. Conforme avançamos com a leitura, vamos encontrando uma obra mais introspectiva do que outra, coisa que somente os grandes gênios da literatura são capazes de realizar.

O mais impressionante dentro do mundo literário é que livros não envelhecem como geralmente ocorre com outras fontes de cultura. Este livro da Clarice foi lançado inicialmente em 1971, mas quando eu estava lendo, senti como se estivesse diante de algo recente; de textos que expressam situações cabíveis e absolutamente sensatas, mesmo para leitores deste longínquo ano de 2014, e que provavelmente assim continuarão sendo pelos próximos séculos que virão. Clarice Lispector escreve com um traçado moderno e jovial; como se ainda estivesse viva, e provavelmente ela ainda está... só que dentro do coração de seus leitores.

É graças á essa mágica dos livros que aos poucos eu posso me redimir dos meus pecados literários, e á cada dia, poder conhecer novos autores brilhantes, escondidos por entre infinitas prateleiras de bibliotecas ou nas imensas livrarias, pelo mundo afora.

Felicidade Clandestina é leitura obrigatória para os amantes de literatura em geral, e Clarice Lispector é sim, a mais engenhosa autora brasileira que já li até a data desta postagem.

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