sexta-feira, 20 de junho de 2014

RESENHA DE LIVRO – O DIABO VESTE PRADA


Ser um amante de literatura por si já me torna uma pessoa um tanto singular, num país onde a maioria sustenta um total desprendimento cultural. E o que dizer de ser um homem que gosta de ler chick lit? (gênero literário moderno, destinado ao público feminino). Obviamente isso só acentua ainda mais a peculiaridade das preferências que me constituem.
Este “O Diabo Veste Prada” é um dos mais famosos livros do gênero citado acima, no qual duas pequenas particularidades me chamaram a atenção quando li: a pretensão da autora e a trama em si. Deixe-me tentar explicar:

Quem já leu Chick lit e conhece o gênero, sabe bem que as histórias são geralmente tecidas em torno de uma típica figura feminina do mundo pós-moderno, com enredo de fácil digestão, linguagem coloquial, normalmente engraçado e cativante. Mas neste trabalho da autora Lauren Weisberger, algumas coisas escaparam totalmente ao que seria a regra do gênero; o que não seria uma coisa ruim, caso tais distinções denotassem um agradável ineditismo e até originalidade. Mas a obra, embora seja mesmo de fácil leitura e com linguagem simples e moderna, passa longe de ser cativante, não é nem um pouco engraçada e ás vezes até cansativa. Se pensarmos no desenvolvimento da trama então, aí a coisa fica mesmo completamente irritante tamanha é a ausência de tempero.
Eis a sinopse:
Andrea Sachs é uma garota recém-saída da faculdade, e que arranja emprego de assistente da poderosa editora Miranda Priestly ( o diabo do título), na conceituada revista Runway. Pronto. A trama do livro é somente isso.

Serão longínquas quatrocentas e tantas páginas que narram os apuros vividos pela personagem principal, orquestrados por uma chefa que é um verdadeiro diabo encarnado. As situações são constantes e realmente beiram o absurdo, deixando sempre muito explícito a enorme truculência de uma líder para com suas empregadas. E quando a personagem não está no trabalho, tudo o que vemos são seus relatos quanto aos medos e traumas, resultados de um trabalho torturante e sem sentido. Até o desfecho previsível e nem um pouco interessante. Ás vezes, eu fiquei com a sensação de que a autora nada mais fez do que encher linguiça a maior parte do livro.
O Diabo Veste Prada não chega á ser um livro ruim. Longe disso. Ele é bem escrito, possui uma personagem principal até simpática, e podemos desfrutar de um intenso vislumbre do que seria o mundo da alta costura. As famosas marcas de grifes não estão somente no título do livro, mas também espalhadas ao longo de toda a trama. Mas o enredo é de uma mesmice estagnada, que pode cansar em alguns momentos.

A minha opinião como leitor pode até ser ofuscada por uma legião de fãs do livro, eu sei. Mas justamente como mencionei no inicio desta resenha, eu gosto de ler chick lit e, portanto, não me incomoda o fato de estar diante de um gênero que sempre denotou sua total despretensão e simplicidade. Mas a realidade é que o texto se tornou extenso demais, repetitivo e pouco engraçado.
Este foi um raro caso de um livro que eu descobri após ter assistido ao filme, que por sinal, é outro caso raro do trabalho cinematográfico, que em alguns momentos chega a ser mais eficiente do que o próprio livro. Um ponto positivo quando se lê depois de assistir, é que a chefa carrasca, Miranda Priestly, acaba ganhando um rosto, pois é impossível ler sem ter em mente o olhar gélido interpretado magistralmente na telona pela sempre maravilhosa Maryl Streep.

Gosto sempre de sustentar a ideia de que um livro vale pelo simples ato de ler. E o Diabo Veste Prada vai merecer os aplausos por sua dinâmica detalhista e simpática. Mas infelizmente é um livro esquecível, que é facilmente ofuscado por tantos outros melhores autores do mesmo gênero.

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