Uma coisa inusitada me ocorreu, conforme o avanço na leitura deste livro: certa familiaridade situacional entre mim e a personagem principal. Porque a grande temática á cerca deste “Tem Alguém Aí?”, outra esplêndida obra de Marian Keyes, é a busca pelo reencontro consigo mesmo; situação que desnuda o personagem desde o início da trama, até o seu comedido final.
A familiaridade decorre justamente nesse aspecto, porque Anna Walsh, personagem principal deste
livro, começa sua trajetória percebendo que se encontra sozinha, e então ela parte
em busca do reencontro consigo mesma. Algo que está atualmente acontecendo em
minha vida.
Talvez esta leviana identificação com a personagem pudesse
fazer desta resenha um tanto suspeita, pela simples perda de meu discernimento
quanto á uma analise fria e imparcial. Mas aqui eu reencontro uma autora cujas
habilidades para construir e, no caso deste livro, descontruir personagens, á
coloca na condição de mestra. Marian
Keyes é infinitamente superior á outras autoras que propõem o tema chick-lit (gênero voltado ao público
feminino, principalmente por seu teor açucarado e infestado de situações que se
assemelham á roteiro de novelas e seriados), e o que faz dela tão superior, é justamente
o fato de que seus livros fogem desta pretensão novelesca, para colocar em
pauta assuntos derivados da essência natural e muitas vezes a falha de nós
seres humanos para lidar com o ineditismo da vida.
É muito rápido e fácil a identificação e, por consequência, apaixonar-se
pelos personagens de suas histórias. Atrevo-me á sugerir Marian Keyes á qualquer público, mesmo o masculino, que normalmente
desconfia de suas capas enfeitadinhas com beijinhos, coraçõezinhos e cores
delicadas, algo tão característico nos livros da autora. Faça como eu tive que
fazer um dia: antes de rotular, abra uma exceção e leia. Certamente você ficará
impressionado com situações que lhe farão se lembrar de si mesmo, ou de alguém próximo.
Talvez até, no auge de seu devaneio literário, você até possa jurar conhecer
alguém dentro da história.
Maryan Keyes têm se aprimorado á cada novo livro.
E este óbvio distanciamento dela com outros autores do mesmo gênero, faz com
que eu a coloque entre os melhores autores modernos que já li. É culpa dela, o
fato de outros títulos do chick-lit
terem me agradado tão pouco.
Bom, a trama desta vez nos revela a história de Anna Walsh (o quarto á contar sobre uma
das cinco irmãs Walsh). Ela nos é apresentada em situação de total debilidade;
está completamente machucada, medicada diariamente com remédios pra dor,
antidepressivos e calmantes. Isso já desperta nossa curiosidade com o que teria
acontecido. E as coisas começam a nos ser entregues, quando Anna resolve
retomar sua vida em Nova York, e ela parece focada principalmente no reencontro
com seu marido, Aidan, que há tempos não
volta pra casa e nem dá sinal de vida.
Em certos momentos, Anna se mostra um tanto obsessiva, dotada
de doses constantes de baixa-estima, nos fazendo pensar que ela foi vítima de violência
doméstica. Eu, particularmente, não sabia ao certo o que pensar sobre Anna. Mas
conforme a trama se desenrolava, eu pude compreendê-la, e como disse no início
da resenha, às vezes até me sensibilizar.
Marian Keyes nos acomete ao seu mundo com
expressiva facilidade, nos angustia com dores que nos soa familiar, e nos faz
rir de arrancar lágrimas... Então, seiscentas páginas parecem ter se tornado
sessenta, tamanha facilidade com que a leitura se desenvolve. É o toque de
Midas, desta gênia da literatura moderna.
É leitura recomendadíssima, não importa o seu
sexo, conhecimento literário ou sua particularidade crítica. É bem provável que,
quando você menos esperar, estará perdidamente apaixonado por este livro.
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