domingo, 27 de julho de 2014

RESENHA DE LIVRO – TEM ALGUÉM AÍ?


Uma coisa inusitada me ocorreu, conforme o avanço na leitura deste livro: certa familiaridade situacional entre mim e a personagem principal. Porque a grande temática á cerca deste “Tem Alguém Aí?”, outra esplêndida obra de Marian Keyes, é a busca pelo reencontro consigo mesmo; situação que desnuda o personagem desde o início da trama, até o seu comedido final.

A familiaridade decorre justamente nesse aspecto, porque Anna Walsh, personagem principal deste livro, começa sua trajetória percebendo que se encontra sozinha, e então ela parte em busca do reencontro consigo mesma. Algo que está atualmente acontecendo em minha vida.
Talvez esta leviana identificação com a personagem pudesse fazer desta resenha um tanto suspeita, pela simples perda de meu discernimento quanto á uma analise fria e imparcial. Mas aqui eu reencontro uma autora cujas habilidades para construir e, no caso deste livro, descontruir personagens, á coloca na condição de mestra. Marian Keyes é infinitamente superior á outras autoras que propõem o tema chick-lit (gênero voltado ao público feminino, principalmente por seu teor açucarado e infestado de situações que se assemelham á roteiro de novelas e seriados), e o que faz dela tão superior, é justamente o fato de que seus livros fogem desta pretensão novelesca, para colocar em pauta assuntos derivados da essência natural e muitas vezes a falha de nós seres humanos para lidar com o ineditismo da vida.

É muito rápido e fácil a identificação e, por consequência, apaixonar-se pelos personagens de suas histórias. Atrevo-me á sugerir Marian Keyes á qualquer público, mesmo o masculino, que normalmente desconfia de suas capas enfeitadinhas com beijinhos, coraçõezinhos e cores delicadas, algo tão característico nos livros da autora. Faça como eu tive que fazer um dia: antes de rotular, abra uma exceção e leia. Certamente você ficará impressionado com situações que lhe farão se lembrar de si mesmo, ou de alguém próximo. Talvez até, no auge de seu devaneio literário, você até possa jurar conhecer alguém dentro da história.
Maryan Keyes têm se aprimorado á cada novo livro. E este óbvio distanciamento dela com outros autores do mesmo gênero, faz com que eu a coloque entre os melhores autores modernos que já li. É culpa dela, o fato de outros títulos do chick-lit terem me agradado tão pouco.

Bom, a trama desta vez nos revela a história de Anna Walsh (o quarto á contar sobre uma das cinco irmãs Walsh). Ela nos é apresentada em situação de total debilidade; está completamente machucada, medicada diariamente com remédios pra dor, antidepressivos e calmantes. Isso já desperta nossa curiosidade com o que teria acontecido. E as coisas começam a nos ser entregues, quando Anna resolve retomar sua vida em Nova York, e ela parece focada principalmente no reencontro com seu marido, Aidan, que há tempos não volta pra casa e nem dá sinal de vida.
Em certos momentos, Anna se mostra um tanto obsessiva, dotada de doses constantes de baixa-estima, nos fazendo pensar que ela foi vítima de violência doméstica. Eu, particularmente, não sabia ao certo o que pensar sobre Anna. Mas conforme a trama se desenrolava, eu pude compreendê-la, e como disse no início da resenha, às vezes até me sensibilizar.

Marian Keyes nos acomete ao seu mundo com expressiva facilidade, nos angustia com dores que nos soa familiar, e nos faz rir de arrancar lágrimas... Então, seiscentas páginas parecem ter se tornado sessenta, tamanha facilidade com que a leitura se desenvolve. É o toque de Midas, desta gênia da literatura moderna.
É leitura recomendadíssima, não importa o seu sexo, conhecimento literário ou sua particularidade crítica. É bem provável que, quando você menos esperar, estará perdidamente apaixonado por este livro.

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