sábado, 11 de março de 2017

RESENHA DE LIVRO – PEQUENA ABELHA


Minha segunda incursão numa obra de Chris Cleave serviu para confirmar o que eu já suspeitava: ele é mesmo um excelente contador de histórias contemporâneas. Desde que li Ouro, obra menos notória do cara (vide resenha aqui no blog), fiquei maravilhado com a precisa condução narrativa e ótimos personagens. E neste PEQUENA ABELHA a elevada dose criativa se repete.

Este é o livro mais famoso de Chris Cleave e, de fato, merece todo o prestígio. Mas confesso que gostei mais de Ouro. E embora aqui o preciosismo literário do autor também seja fascinante, eu achei que em certa altura da trama, esta acaba dando relativa amornada. No entanto, mesmo que esta leve queda seja sentida, a obra como um todo permanece formidável.

A trama conta a historia de uma garota refugiada da Nigeria que tentou entrar clandestinamente na Inglaterra, mas acabou indo parar numa casa de detenção de refugiados. Alternadamente também acompanhamos a trajetória de Sarah, uma editora de classe média que apesar do sucesso profissional, leva uma vida infeliz. Logo no início da história algumas revelações já começam a entremear as duas protagonistas principais. Portanto, não dá pra falar muito sobre a trama pra não cometer nenhuma gafe. Só o que posso adiantar é que Chris Cleave constrói um enredo arrebatador e cheio de revelações, onde ninguém é impoluto ou irreprovável.

Narrado em primeira pessoa, cada capítulo possui uma protagonista como contista, sendo que meus capítulos favoritos são os narrados pela heroína que dá título à obra. Abelhinha é um doce de garota e seu ponto de vista comparativo, ao falar diretamente com o leitor sobre as diferenças e semelhanças de seu país com a Inglaterra são geniais.

Pois é quando estamos acompanhando o dia-dia de Sarah que achei que o ritmo da história acabou perdendo um pouco de brilho. Mas creio que mesmo este ato fora proposital, afinal, a personagem denota traços depressivos, o que acaba respingando na leitura.

Os personagens secundários também possuem características distintas e interessantes, mas mesmo sobre estes detalhes não poderei falar muito, pois posso acabar revelando detalhes que tirariam a graça de quem ainda vai ler. Um único sujeito que dá pra falar é do Batman; o pequeno filho de Sarah que é fascinado pelo herói dos quadrinhos. O moleque vive enfiado em fantasias do morcegão e passeia pela sua infância à procura de malfeitores para derrotar.

PEQUENA ABELHA é uma obra estupenda! É delicada, de personagens bem construídos e enredo coeso. E dentre as muitas mensagens que o livro propositalmente passa ao leitor, a que mais gostei é quanto da fragilidade humana poder interferir no meio em que ele está inserido; que ações desencadeiam em intermináveis efeitos imprevisíveis, neste mundo onde não existe heroísmo fundamentado, apenas seres humanos falhos tentando sobreviver ao caos da melhor forma possível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário