Neste atual mundo hedonista, vivemos na obrigação cotidiana de sermos felizes. Mas será mesmo possível que se estabeleça felicidade permanente? Seria a tristeza coisa de gente mal resolvida?
Para avançar ainda mais em tais
questões problemáticas, poderíamos supor que muito pior do que a angústia por
encontrar contentamento talvez seja a percepção de que a felicidade parece algo
superficial; uma constante suspeita de que aquele que é alegre o tempo inteiro
certamente não conseguiu enxergar a complexidade do universo ao seu redor.
A fuga da situação de
sofrimento na vida cotidiana talvez esteja nos distanciado de um aprendizado aparentemente
difícil de ser percebido: a capacidade de discernir sobre um conflito
melancólico, ou a impossibilidade de se livrar de certas resistências sociais. Gosto
da ideia de que a capacidade de percepção do mundo como ele de fato funciona
talvez seja a condição primordial do ser melancólico. Sim, pois a elevação do
discernimento elimina toda e qualquer possibilidade de exaltação, ansiedade,
expectativa e, claro, de prazer.
Mas se tal constatação for
assertiva, então a melancolia seria como uma espécie de sabedoria cruel. E
então poderemos atestar o velho axioma que sustenta a ideia de que “a
ignorância é mesmo uma bênção”. Porque se o indivíduo melancólico está correto
em seu trono de dor, não há razão para querermos angariar conhecimento.
Exatamente como pensam os atomistas: que a vida seria apenas um acaso, em que
átomos e moléculas pairam aleatoriamente num espaço vazio.
No meu caso posso dizer que
vivi uma vida, pelo menos até este presente instante em que escrevo, cujo
principal intento foi evitar burocracias, estresses, ambições elevadas e
desejos ardorosos. Procurei me esquivar dos abalos existenciais em provento da
paz e tranquilidade de meu ser. Isso adentrou-me num amplo e perceptível estado
de tédio, caracterizado justamente pela ausência de grandes obstáculos. E o que
dizem alguns especialistas é que o tédio nada mais é do que uma fronteira muito
estreita para a melancolia.
Contudo, acho que a elevação
da lucidez não seja indicativa da perda total dos instantes alegradores no
mundo. Portanto, o que talvez ocorra com um ser melancólico seja a sofisticação
da felicidade; a redução do prazer que o torna, por sua própria raridade, um
instante inesquecível e melhor aproveitado. Afinal de contas:
Como discordar? Os momentos felizes são raros mas muito bem aproveitados. Geralmente compensam os momentos de melancolia...
ResponderExcluirÉ um assunto que me interessa de perto, Eliane. Ainda estou tentando identificar se de fato, sou por demais melancólico... Abraços!!
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