Finitude, decrepitude,
vetustez, ancianidade, longevidade... Talvez o título dessa reflexão
tornar-se-ia um tanto politicamente correto, caso eu fizesse uso de um destes
termos higienizados. Mas creio que nenhum deles consegue alcançar com a mesma precisão
aquilo que o substantivo “velhice” suscita em nossas mente, após o ouvirmos ou
lermos.
De maneira quase que
inevitável nós repudiamos a velhice como se fosse um mal inescapável; uma
punição dada a todo ser que achou que seria esquecido em algum canto pelo
tempo. No entanto, eu nunca ouvi falar de alguém que ansiasse pela morte antes
de ficar velho. Ninguém quer desembarcar desse mundo sem antes passar pela
terceira idade, como se a longevidade fosse uma espécie de atestado de
excelência; status de merecimento alcançado apenas por aqueles que superaram as
muitas mazelas existenciais.
Velhice implica perda de
capacidade motora, debilidade física e, principalmente, queda elevada daquilo
que antes eram atributos estéticos. Mas a velhice também é lugar de
discernimento, a idade onde há elevação da humildade, a perda considerável da
ingenuidade e muitas vezes um ganho enorme na capacidade de fazer melhores
escolhas... Portanto, tornar-se velho não é melhor ou pior do que as demais
fases da vida. Ser velho é apenas mais uma fase da existência, que igualmente a
outros estágios, possui suas vantagens e desvantagens.
Acho ótima a metáfora usada
pelo historiador Leandro Karnal em um de seus excelentes Café Filosóficos,
quando ele diz que estar num corpo envelhecido é como se tornar um excelente
motorista de posse de um carro ultrapassado; agora que a mente adquiriu
discernimento para saber o que fazer, não temos mais um corpo vigoroso que
corresponda com a noção de ideal. O motorista (a mente) deixou de ser jovem
e inconsequente, mas o carro (o corpo) agora é frágil e cheio de limitações.
Simplesmente porque a verdade inegável é que não dá para se aprender a viver,
para depois viver. Experiência se adquire em conformidade com o movimento... Mas
se a velhice não é nada mais do que o último estágio banal de uma vida, porque
há tantas pessoas que a temem como se fosse um agouro inevitável?
Talvez porque ao pensarmos
na velhice sob a égide da vaidade, cresce dentro de nós o medo de perdermos
tudo o que na juventude nos era considerado virtude: beleza física, desempenho
sexual, disponibilidade e vigor natural. E embora possa ser facilmente identificado
diversos atributos alcançáveis em seu ápice somente na finitude, nenhum deles
parece tão atraentes quanto às características da preciosa mocidade.
Ou ainda pior do que o ego
pela eterna jovialidade, talvez a velhice corresponda a fase em que o ser
humano mais tema por conta de uma fatalidade: a morte. É por termos tanto medo
de morrer que talvez a terceira idade nos pareça tão ameaçadora; sabermos que
temos menos tempo pela frente do que tempo vivido pode ser uma constatação
extremamente macabra.
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