Quando a autora Sofka Zinovieff recebe como inesperada
herança um diário de sua avó, ela inicia uma obcecada e reveladora busca pela
identidade de sua prestigiosa ascendente. Poder-se-ia imaginar que se trata de
mais uma empreitada biográfica sobre extraordinários e corajosos indivíduos que
viveram na caótica Europa do século XX, semelhante a tantas outras que permeiam
o universo literário. E embora a premissa seja a de contar a história de sua avó,
aqui a autora optou por uma narrativa mais documental.
Nesta decente obra Sofka Zinovieff, cujo nome é o mesmo da
avó, percorre por um delicado estilo narrativo de contar toda sua experiência enquanto
seguia os passos da ilustre ancestral, o que escapa um pouco do teor linear das
biografias. Sofka visita pessoas, lugares e memórias e discorre sobre os
diálogos trocados, as contradições com o diário que recebeu; relata os pontos
importantes do passado de sua linhagem; absorve, de modo imparcial, as
distintas opiniões adquiridas ao longo de toda a empreitada.
E justamente a
imparcialidade é o ponto forte dessa autora. Ela não altera o que lhe foi
relatado, mesmo quando tais explanações entram em contradição com suas teorias;
Sofka passa o tempo inteiro fazendo analogias com as escrituras do diário,
comparando-as com o testemunho das pessoas íntimas daquele tempo; entra em
embate consigo mesma e ora chega a querer desacreditar algum testemunho,
digamos, menos decoroso, mas no máximo cogita por alguma hipótese
contraditória... Ela sempre reproduz o que viu e o que está no diário.
Outro aspecto que deu um
charme a mais ao livro foram alguns aforismos espalhados ao longo de toda a
obra; frases que a avó retirava dos livros que lia ou que ela simplesmente
gostava. É muito agradável encontrar breves sentenças de teor filosóficas que
ajudam a deixar a leitura menos maçante, principalmente porque aqui se trata de
um trabalho que se assemelha demais a uma biografia.
Nascida na nobreza de São
Petersburgo de 1907, Sofka (a avó) foi uma mulher que teve sua vida
completamente transformada com a revolução comunista, depois viveu os tempos de
horror da segunda guerra e da guerra fria. Sua família parece sustentar uma
linhagem de gente notória pela coragem e determinação. O livro começa
exatamente ajudando o leitor a compreender esse fato: os pais de Sofka, que
também tiveram uma vida fascinante e cheia de altos e baixos, representam o passado
que explica a mulher ousada e inteligente que escreveu o diário, o qual foi dado
à neta que passa a o seguir em tempos distintos.
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