sábado, 13 de abril de 2019

RESENHA DE LIVRO – SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA


Um trio inusitado de investigadores com um objetivo em comum: desvendar o assassinato de uma mulher jovem, eventualmente encontrada por dois membros deste excêntrico trio. Trata-se de dois adolescentes que, ao matar o horário de escola, se embrenham numa mata onde encontram o corpo mutilado de uma bela jovem. Já o terceiro elemento do grupo é um distinto senhor, morador de um asilo e ex-preso político. Aos poucos, o inveterado grupo se reúne para seguir os rastros de uma vítima que esteve intimamente envolvida com personalidades políticas importantes da cidade.

A sinopse parece ser um prato cheio para um auspicioso livro de suspense policial. Contudo, o autor deste nem um pouco trivial SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA, não detém o foco de sua literatura no crime, muito embora este seja o prato principal.

Edney Silvestre é um exímio contador de histórias, principalmente por sua habilidade em despertar empatia do leitor sobre seus personagens. Em todas as obras que li do cara, é fácil encontrar protagonistas distintos em personalidade, críveis em comportamento e bem longe da faceta característica do super-herói que surge para dar conta de todo o mal... Não.
Edney tece sua trama de modo a fazer com que os envolvidos estejam exatamente dentro daquilo que os aproxima do leitor: eles são falhos, limitados, inocentes, indecisos, inconstantes, ou seja, são detentores de problemas semelhantes aos nossos.

É delicioso acompanhar a interação entre os dois adolescentes, Paulo e Eduardo. O entrosamento deles funciona deliciosamente e logo se percebe que, de fato, estamos lendo a ingenuidade mesclada a malicia típica da juventude. Eles resmungam, questionam, esbarram em seus limites reflexivos e não têm nenhum pudor em mudar drasticamente de assunto ou ficar calado quando lhes convém.

Já o terceiro membro do grupo, o velho, pareceu-me o menos interessante. Muito embora ele possua alguns aspectos que o validem como alguém cuja longevidade mostra que tem algo a dizer, este personagem parece ter sido inserido para resolver situações que adolescentes dificilmente conseguiriam ou apenas para servir como inserção de diálogos que façam com que o leitor entenda que se trata de uma história que se passa na década de sessenta. Mas isso não é um problema, nem chega a estragar a condução da obra, fora o fato de que o autor soube dar valorosa importância final a este personagem.

A trama começa muito boa, a narrativa é envolvente, verossímil, deixa-nos perto dos personagens quase o tempo todo. Há momentos em que ela fica um pouco entediante, mas logo retoma o fôlego, principalmente quando estamos acompanhando Paulo e Eduardo. Eu demorei um pouco a enxergar o enredo sob a ótica dos garotos porque quando comecei a leitura, minha expectativa era por uma história mais voltada ao suspense policial. Mas só quando compreendi que SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA quer, na verdade, contar uma história de amizade entre dois jovens vivendo num universo caótico e sórdido foi que pude vislumbrar a beleza narrativa.

O final é um delicioso passeio saudosista por parte de um dos personagens. A conclusão também é boa, foge do óbvio, evidencia que a vida continua apesar das injustiças e agruras sociais e deixa espaço para o leitor refletir. Não considero o melhor trabalho de Edney Silvestre, mas é leitura recomendadíssima.

NOTA: 6,9

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