Um trio inusitado de
investigadores com um objetivo em comum: desvendar o assassinato de uma mulher
jovem, eventualmente encontrada por dois membros deste excêntrico trio.
Trata-se de dois adolescentes que, ao matar o horário de escola, se embrenham
numa mata onde encontram o corpo mutilado de uma bela jovem. Já o terceiro
elemento do grupo é um distinto senhor, morador de um asilo e ex-preso
político. Aos poucos, o inveterado grupo se reúne para seguir os rastros de uma
vítima que esteve intimamente envolvida com personalidades políticas
importantes da cidade.
A sinopse parece ser um
prato cheio para um auspicioso livro de suspense policial. Contudo, o autor deste
nem um pouco trivial SE EU FECHAR OS
OLHOS AGORA, não detém o foco de sua literatura no crime, muito embora este
seja o prato principal.
Edney
Silvestre é um exímio contador de histórias, principalmente por
sua habilidade em despertar empatia do leitor sobre seus personagens. Em todas
as obras que li do cara, é fácil encontrar protagonistas distintos em
personalidade, críveis em comportamento e bem longe da faceta característica do
super-herói que surge para dar conta de todo o mal... Não.
Edney tece sua trama de modo
a fazer com que os envolvidos estejam exatamente dentro daquilo que os aproxima
do leitor: eles são falhos, limitados, inocentes, indecisos, inconstantes, ou
seja, são detentores de problemas semelhantes aos nossos.
É delicioso acompanhar a
interação entre os dois adolescentes, Paulo e Eduardo. O entrosamento deles funciona
deliciosamente e logo se percebe que, de fato, estamos lendo a ingenuidade
mesclada a malicia típica da juventude. Eles resmungam, questionam, esbarram em
seus limites reflexivos e não têm nenhum pudor em mudar drasticamente de
assunto ou ficar calado quando lhes convém.
Já o terceiro membro do
grupo, o velho, pareceu-me o menos interessante. Muito embora ele possua alguns
aspectos que o validem como alguém cuja longevidade mostra que tem algo a
dizer, este personagem parece ter sido inserido para resolver situações que
adolescentes dificilmente conseguiriam ou apenas para servir como inserção de
diálogos que façam com que o leitor entenda que se trata de uma história que se
passa na década de sessenta. Mas isso não é um problema, nem chega a estragar a
condução da obra, fora o fato de que o autor soube dar valorosa importância final
a este personagem.
A trama começa muito boa, a
narrativa é envolvente, verossímil, deixa-nos perto dos personagens quase o
tempo todo. Há momentos em que ela fica um pouco entediante, mas logo retoma o
fôlego, principalmente quando estamos acompanhando Paulo e Eduardo. Eu demorei um
pouco a enxergar o enredo sob a ótica dos garotos porque quando comecei a leitura,
minha expectativa era por uma história mais voltada ao suspense policial. Mas
só quando compreendi que SE EU FECHAR OS
OLHOS AGORA quer, na verdade, contar uma história de amizade entre dois
jovens vivendo num universo caótico e sórdido foi que pude vislumbrar a beleza narrativa.
NOTA: 6,9
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