Temos aqui um trabalho
peculiar, difícil de ser recomendado, digerido ou rotulado. Mas aprovar ou
abominar, embora pareça dividir leitores de modo equilibrado, nenhum dos lados
pode contestar a faceta cruciante que o escritor Chad Kultgen sustenta, de uma sociedade alienada e confusa, que
aparentemente sabe cada vez menos sobre aqueles seres que nela convivem, em
essencial, aqueles que nos são mais próximos.
Eis a essência desta decente
obra.
A priori a trama sugere algo inofensivo e parece denotar que temos em mãos só outro daqueles livros purpurinados, cujo estilo é o típico “bate
e assopra” e acima de tudo, atesta aquilo que os adolescentes adoram ler: que
eles são vítimas e estão vivenciando a pior fase de suas vidas...
Só que o buraco é bem mais
embaixo. HOMENS, MULHERES & FILHOS
traz ao leitor, de forma pungente, as incertezas dos adolescentes sim. Mas não
se prende a esta fase unicamente e invade também o universo dos adultos,
explicitando com textualidade intimista, sexual e despudorada, que ninguém
neste planetinha cheio de gente sabe exatamente como lidar com as próprias
mazelas existenciais; exibe-nos famílias pós-modernas, que cometem o equívoco
de achar que compreendem a diversidade abundante do ser humano, pelo simples
fato de se estar deliberando sobre um membro da família, ou pior, sobre si
mesmos.
Talvez o que faltou para
tornar este livro memorável fosse uma boa dose de profundidade nos aspectos
naturais e psicológicos de cada personagem, mas é impossível não exaltar a
coragem com que algumas problemáticas de nossa sociedade atual são atiradas na
cara do leitor, como se fosse uma dolorida bofetada.
O livro possui muitos personagens,
todos em condições iguais de importância e jogados de uma vez na narrativa.
Isso teria sido um problema para o aspecto familiaridade, mas o autor soube
conduzir a trama em subcapítulos curtos e com prosas ágeis, o que facilitou na
hora de situar cada um deles.
As situações são bem
críveis, alguns momentos chegam a incomodar um pouco. Há instantes em que a
narrativa parece perder o freio e simplesmente vai contando tudo, de um jeito
cru e quase pornográfico. O livro deixa claro que não quer entrar no lado
imersivo de seus personagens, e sim, focar apenas em contar sua história.
Os personagens não
desagradam nem nos deleitam. Inserem-se, de um lado ao outro, dentro de um
cenário cheio de lacunas em que tentam esconder suas facetas: o ímpeto sexual,
a competitividade juvenil, a impotência perante o trauma, condutas exóticas
ocultas, o medo da sociedade julgadora. A trama não se prende em esmiuçar seus temas, mesmo assim, seguimos lendo pela vontade de saber como essa mistura
caótica terminará.
O livro também tem seus
probleminhas: algumas narrativas são cansativas, como por exemplo, as partidas
da divisão escolar de futebol americano; momentos chatos e desnecessários para
o entendimento. Poderiam ter sido resumidos ou cortados.
O desfecho de cada um dos
personagens também é previsível demais. No entanto, isso não chega a incomodar
porque a condução prosaica é simpática; a gente quer continuar lendo mesmo
sabendo o que vai acontecer daqui a pouco.
O final trouxe uma explanação valiosa sobre causa e efeito no desfecho de um dos personagens.
É bem neste ponto do livro que a mensagem maior sobre nada ser o que parece
diante dos olhos se torna evidente.
HOMENS,
MULHERES & FILHOS termina no momento certo; sem descambar para
pieguices, nem reviravoltas comoventes... Coloca o inacabado em seu lugar ideal,
restando-nos o árduo incômodo de sabermos que nada se encerra propriamente, que
tudo é cíclico e que talvez seja essa a magia por trás da complexidade: a possibilidade
de aprender a deixar de lado os anseios e vaidades, para quem sabe aprendermos a
aceitar o diferente no outro.
NOTA: 7,1
NOTA: 7,1
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