sábado, 3 de outubro de 2020

RESENHA DE LIVRO – MARINA


Eis aqui outro livro altamente aclamado, recomendado e lido, cujo conteúdo parece questionável, ou no mínimo, fugiu de minha compreensão. A experiência desta leitura me fez recordar alguns filmes confusos e indeterminados, que se repetem a exaustão nas sessões da tarde semanais.

MARINA se passa na Barcelona da década de 80; adolescente que vive num internato conhece, numa de suas fugidas para perambular através das artérias da cidade, uma garota aparentemente cheia de mistérios, que vive num casarão sorumbático com seu pai. Estabelecida a nova amizade, os dois são atraídos para acontecimentos que desencadeiam uma história, digamos, cheia de surpresas imprevistas.

Num primeiro momento, parece que estamos diante de um livro impactante, inusitado e bem escrito. A narrativa é aberta, mostrando o personagem principal sendo encontrado numa estação ferroviária, após dias de desaparecido. Óscar Drai parece confuso, desencontrado, alguém que acabou de escapar do inferno... Some a este início sedutor o fato de que o autor Carlos Ruiz Zafón carrega em seu currículo alguns títulos que o elevaram ao status de talento incontestável. Também temos uma capa belíssima e aforismos genéricos espalhados por diversos instantes da narrativa, cuja serventia é a de mera ornamentação.

Apesar de sustentar um texto limpo e acessível, o autor desenvolve a história optando por percorrer um caminho frívolo. Por exemplo, a condução narrativa se preocupa excessivamente com detalhes do cenário, tempo e lugar, deixando de lado os personagens que entram de cabeça numa aventura cheia de perigos sem a menor preocupação ou imersão reflexiva, como se eles fossem acostumados a colocar suas vidas em risco.

Por falar em personagens, estes também não servem como elementos para cativar o leitor. Óscar e Marina são pouco carismáticos e precisam demais dos aparentes mistérios que envolve suas vidas ou as consequências de decisões tomadas, para atrair algum interesse de nós. Talvez por conta dessa mesma narrativa excessivamente preocupada com o ambiente foi que se perdeu a essência de seus protagonistas. Estamos diante um livro de mistério, mas a leitura se torna maçante em diversos instantes.

Quando defronte aos perigos da aventura elaborada por Zafón, eis que algum personagem lança uma frase de efeito ou o subcapítulo se encerra dentro de um momento aparentemente crítico. Então, na página seguinte seguimos com a mesma receita de aforismos prontos e alguma expectativa pelo perigo eminente, quase sempre remetendo Óscar à mais um passo para desvendar o grandioso mistério, sendo que quase tudo é entregue facilmente, nenhum personagem secundário que surge para explicar algum ponto se mostra desconfiado ou receoso. Tudo é revelado automaticamente, deixando pairar uma sensação de urgência na condução narrativa. E a Marina do título também faz pouco, não possui peso na trama e surge no capítulo final para protagonizar um extenso e cansativo desfecho.

A grande maioria dos leitores manifestaram opiniões positivas sobre este livro pela internet, o que não é de causar estranheza. MARINA não chega a ser desprezível como leitura, busca manter-se alinhado ao mistério que, instigante ou não, deu-me a impressão de que o autor está convencido de ter entregado exatamente aquilo que prometeu.

MARINA é um livro infanto juvenil, pelo menos do meu ponto de vista. Não trouxe nada de inovador, seu personagem Óscar carrega o arquétipo de herói higienizado que atrapalha sua credibilidade e a Marina do título é incapaz até mesmo de justificar seu nome como destaque. Talvez mais do que a semelhança por um filminho previsível de uma tarde semanal, este livro tenha o viés de um autor apaixonado pela própria escrita.

NOTA: 4,2

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