Sempre que me proponho a conhecer um novo autor, faço uma breve pesquisa na internet para compreender melhor o tipo de terreno que estou explorando. Contudo, opto por fazer essa atividade só após terminar a leitura, talvez num ato involuntário de não prejudicar eventuais surpresas favoráveis que a trama poderia proporcionar. Pois foi a pesquisa que fiz sobre o autor deste mediano A VIDA SECRETA DOS ESCRITORES, um romancista francês chamado Guillaume Musso, o que evitou que eu cometesse uma injustiça nesta resenha. Afinal, o livro não é propriamente ruim. O caso é que eu era um leitor desavisado sobre o conteúdo que estava levando pra casa.
Vamos falar sobre isso.
A VIDA SECRETA DOS ESCRITORES é uma
obra sedutora tanto na estética visual quanto no título sugestivo; devo dizer
que foi a combinação de ambos que me fez retirar aquele belo box da prateleira;
trabalho charmoso feito pela editora L&PM, que reúne o livro físico, mais
uma pequena revista contendo informações da ilha fictícia que é cenário da
história, e um marcador de página.
Contudo, retirar da prateleira
não garante que levarei o livro. E eis que a obra possui um terceiro elemento
sedutor: a sinopse, que me deixou bastante curioso: escritor consagrado
misteriosamente resolve abandonar a carreira e se isolar numa ilha. Vinte anos
depois, um aspirante e fã decide viajar até o local para descobrir como vive
este que é seu escritor favorito. No meio disso, também surge a figura de uma
repórter aparentemente interessada em saber do paradeiro do recluso autor. E
pra instigar ainda mais nossa curiosidade, um assassinato ocorre na pacata ilha…,
eu devia ter desconfiado de que isso era muitos pressupostos inseridos num
reduzido volume de apenas 220 páginas.
E é este, precisamente, o
aspecto que me incomodou durante toda a leitura: tem coisa demais acontecendo,
várias personagens rondando a narrativa, aspectos investigativos, enigmas
ligados ao passado da personagem escritor, alternância de tempo dos fatos…, é
um aglomerado de temas envolventes, mas sem nenhum aprofundamento, a narrativa
é conduzida de modo rápido, como se estivéssemos lendo uma matéria de jornal.
O livro até sugere reflexões
existenciais, questionamentos éticos, mas não possui densidade, a condução
parece insistir em permanecer sempre na superfície. Guillaume Musso
insiste em reviravoltas para prender o leitor, o que faz com que a consistência
não exista em momento algum. Em vários momentos há citações de grandes autores
fazendo introduções de capítulos, mas até mesmo isso parece estar lá apenas
para seduzir. O texto possui uma sensação de urgência que incomoda leitores
questionadores ou atentos, que buscam profundidade literária.
O autor concentra energia no
enredo, mas se esquece do tecido narrativo que sustentaria a experiência
estética. As personagens acabam funcionando mais como peças aleatórias de um
jogo de tabuleiro simples; a escrita de Guillaume Musso é como uma
partida de damas e isso vai incomodar leitores que pensaram se tratar de um
jogo de xadrez, como foi o meu caso.
Minha introdução desta resenha foi justamente o que me trouxe a revelação: Musso é escritor de um estilo de literatura de “consumo rápido” (alguns críticos chamam isso de romance de aeroporto), sem a preocupação com espessura imersiva ou elementos reflexivos. A ideia é criar obras cujo conteúdo seja sedutor, mas sem a potência de permanecer ressoando na mente do leitor. Não é o tipo de literatura que me agrada.
A VIDA SECRETA DOS ESCRITORES é uma obra que não vai além da sugestão em adentrar questões importantes, como vida íntima, bloqueio criativo e peso da fama. Mas o tal estilo comercial de literatura rápida puxa a trama e não deixa que saia da superfície. As temáticas parecem profundas, mas acabam tratadas de forma efêmeras, quase como se fosse o relato de alguém que você encontrou por acaso no ponto de ônibus.
NOTA: 6,1

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